Disco: CD “How long has this been going on?”, com Sarah Vaughan.

O seu nome bem que poderia ser Sarah “Virtuose” Vaughan, tal a capacidade de interpretação. Meu Deus do Céu, que maravilha é viver! Só em ter escutado a minha querida Sarah cantando “Misty” no palco do Hotel Nacional, no Rio de Janeiro, valeu-me a “passagem de ida”. Seu carisma é algo impressionante: a plateia ficou simplesmente siderada. E Sarah na dela, com um largo sorriso estampado na cara, passeando pelas “oitavas” como quem passeia nos Jardins do Éden. Talvez por isso a apelidaram de “Divine”. Por mim, tudo bem: a justiça foi feita e a nossa Sassy para sempre será divina!

Neste imperdível disco, Sarah Vaughan está acompanhada pelo talentoso Oscar Peterson (piano), pelo “mágico” Joe Pass (guitarra), Ray Brown (contra-baixo) e Louie Bellson (bateria). Convenhamos: é muito mais que uma “reunião”, minha gente, é uma verdadeira assembleia musical…

“My old flame”, “Body and soul”, “You´re blasé”, “Easy living” e “More than you know” são algumas das pérolas presentes no disco. Ora acompanhada por todos os músicos, ora só com um único instrumento, e lá vai Sarah brincando com as notas. Na verdade, com todas elas!

“Nota dez! Nota dez!”, daria aquele exultante jurado para este disco. Então, basta apenas confirmar, meus amigos.

 

Sarah_Vaughan

JAZZ: minha doce e eterna Billie Holiday!

Billie Holiday não foi apenas a grande dama do “blues”, meus amigos. Na verdade, ela foi a mais importante cantora de jazz… de todos os tempos. É inegável que a sua voz não era tecnicamente perfeita. Tampouco ela sabia fazer uso das oitavas, como Sarah Vaughan conseguia. E não possuía sequer uma voz aveludada que “abraçasse” os maravilhosos “blues” com a devida correção. Apesar de tudo isso, Billie Holiday brilhou e encantou gerações de admiradores. Por quê?! Ah, minha gente, eu acredito que foi pelo fato de que ela foi capaz de nos fazer sentir “humanos”. Sim! Quando se escuta a voz lamentosa de Billie, imediatamente os nossos “instintos” se descontraem e nos convidam para uma interminável sessão de “levitação emocional”. Ah! Minha doce e eterna Billie… que falta você nos faz!

Hoje, minha doce Billie, ao ligar o som da vitrola e ouvir os primeiros acordes de “Stormy blues”, eu percebo que o mundo foi, de fato, “padrasto” com você. Então, para nos redimir desse pecado, eu lhe peço desculpas pelos infortúnios que passou. Por certo, eles foram injustos e aviltantes!

Memórias: Dia das mães… e do João Pedro, também!

Ah, esta vida é mesmo surpreendente. Mágica, até. Isto porque quando a gente menos espera, eis que ela nos enfeitiça mais uma vez e nos convida a uma irrecusável oferta de afeto. Aliás, cá entre nós: quem pode recusar amor a uma “coisinha” como essa? Quem, minha gente?!

Abençoado seja, João Pedro!

JP e o vovô

Memórias: Jarina Menezes, minha mãe!

Olha, seu moço, eu gostaria de contar um “causo”. Creia-me, é um causo interessante. Singelo e raro. Contudo, eu devo alertar: não se trata de grandes caçadas ou incríveis pescarias. Tão-pouco contempla bicho estranho ou toda sorte de proezas extraídas da fértil imaginação dos homens. Não, seu moço! A estória que vou relatar é simples feito um vestido de chita, mas, tenha a certeza, ela é cheia de riquezas outras. É a estória que narra a vida de uma corajosa nordestina, de nome Francisca Jarina, uma tremenda cabra da peste. Sim, meus amigos, Jarina Menezes: mãe de seis filhos, que saiu do distante Ceará e se tornou uma baita artista plástica!

Pois então eu conto: ela nasceu num pequeno vilarejo, o velho Massapé, lá pelos idos de 1927. Quando criança, sob o céu do agreste, Jarina se punha a observar nuvens dançando, formando estranhas figuras no seu imaginário. Ainda que não soubesse, por certo, nascia ali o universo surrealista que acompanharia para sempre o seu destino e a sua extraordinária arte.

Antes disso, porém, apesar da pouca idade, Jarina precisou se fazer ao mar. Empurrada pela perda da mãe, Carlinda, quando contava somente dezessete anos, Jarina viu-se obrigada a cuidar de outros dois “Franciscos”, irmãos caçulas: um de 9 e o outro com apenas 5 anos de idade. Juntando esforços com a irmã Ivone, ela alimentou, zelou pela saúde e semeou educação nos dois irmãos.

É bem verdade que naquele distante e conservador Ceará, não restava a Jarina muitas alternativas. Daí o casamento precoce, ainda no mesmo ano da morte da mãe. Pouco tempo depois um dos filhos foi acometido por doença grave e Jarina teve que sair do seu velho Ceará. Com os seis rebentos debaixo das asas, ela veio ao Rio de Janeiro com a missão de “salvar” o menino “Zeo”, sem lograr o merecido êxito… Era uma viagem que, naquela época, levava dez horas pela Real Transportes Aéreos, pingando em todos os aeroportos que existiam no caminho.

No Rio de Janeiro, após um prolongado luto pela perda do pequeno filho, teve início a vida artística de minha mãe. Foi no Centro de Arte Contemporânea que ela teve os primeiros ensinamentos nas técnicas da pintura.

Em 1982, Jarina veio morar em Florianópolis, onde residiu por mais de vinte anos na bela Lagoa da Conceição. E aqui ela ampliou os conhecimentos nas técnicas e se entregou de vez a essa maravilhosa arte!

Jarina

JAZZ: Huddie “Leadbelly” e as prisões!

Há quem diga que o jazz não é um ritmo e sim um “estado de espírito”. Pois é… pode bem ser verdade. Afinal, quando falamos de espírito, referimo-nos essencialmente à alma humana: aquela “caixa-preta” que guarda tantas lembranças quanto o coração é capaz de comportar. O certo é que há no jazz alguma coisa mágica, que revela santos e demônios interiores e que aproxima músicos de todas as raças. Cantar ou tocar “blues” terá sempre o mesmo sentido: entregar a alma à melodia e colher o seu acalento. Por sorte, foram muitos os que conseguiram chegar ao “nirvana” e, com isso, deliciaram-nos com sopros, cantos e acordes. Sons que atravessaram impunemente a história graças à incrível riqueza melódica.
É sabido que o jazz revelou muitos espíritos inquietos, muitas almas inconformadas. De certa forma, pode-se dizer: ainda bem! Uma dessas almas inquietas foi a do guitarrista Huddie “Leadbelly” (1885-1949). Nascido em Louisiana (EUA), filho de um ex-escravo, Leadbelly criou-se ouvindo canções de gente do campo. Aprendeu a tocar guitarra de 12 cordas e acordeão e, muito cedo, aventurou-se em bailes do interior. Perambulou pelo Texas e Mississipi, sempre envolvido em encrencas. Foi preso muitas vezes. Sua música, no entanto, por duas vezes o livrou da dura prisão. Na primeira, pelo governador do Texas e na segunda pelo governador da Louisiana, ambos sempre encantados com a música de Leadbelly, e rendidos ao seu talento.

Enfim, assim é o jazz: tradicional ou ousado, elegante ou marginal, puro ou experimental… mas, sempre passional. Ainda bem, minha gente!

Disco: CD “Milestones”, com Miles Davis.

É o seguinte, rapaziada: é claro que todo “gênio” tem direito ao seu dia de “simples mortal”, sem que isso enxovalhe a extraordinária obra criada por ele. Pois saibam, então: eu acredito que seja o caso de Miles Davis nesse CD, “Milestones”. Para muitos amantes do jazz, trata-se de um trabalho feito às pressas, bem abaixo do talento de Miles. Tudo bem. Pode até ser verdade. Mas, ainda assim, é preciso reconhecer o toque refinado do grande trompetista nas seis faixas do álbum. E de mais a mais, os músicos que fizeram parte do referido disco formam uma baita “seleção” e não fariam fiasco em momento algum. Afinal, lá estavam “Cannonball” Adderley, John Coltrane, Paul Chambers e “Philly” Joe Jones. Ufa… Quem pode querer mais?!

O que sei dizer é que em alguns momentos do controvertido disco, principalmente na faixa 4, ouviremos um inigualável show de Coltrane e de Miles, isso sim!
Foi nesse exato momento que eu me lembrei do querido tio Holdemar, um tremendo escritor, que dizia: “meu sobrinho, no Brasil você tem que escrever uma “obra prima” todos os dias para provar que é um bom escritor. Senão, cai na mediocridade!”

Pois é. Então, por conta disso, eu fui ouvir o disco uma vez mais… E somente aí eu me dei conta que o CD é, de fato, muito bom. Aliás, quase uma obra-prima!

https://www.youtube.com/watch?v=k94zDsJ-JMU

 

Miles Davis

Disco: CD “Someday My Prince Will Come”, com Miles Davis.

Era o início dos anos 60 e eu tinha apenas 10 anos. Nunca imaginaria que o sonho de minha irmã mais velha – “Algum dia meu príncipe chegará!” – fosse o tema do disco de Miles Davis. Como eu saberia que um “sonho” pode ser tocado? De fato, pode! Não por qualquer um, tampouco por qualquer instrumento. Somente por ele. Somente pelos lábios “mágicos” de Miles Davis.

A música de Miles foi como a sua vida: estranha, conturbada e contraditória. Mas, antes de tudo, extraordinária. Lá, isso sim!

Seguramente, ele foi o músico mais reverenciado da história do jazz. O mais criativo e o mais “abusado” também, pois até de costas ele já tocou para plateias atônitas. É verdade… ele foi muitas vezes malcriado e irreverente. Mas, sempre impecável. Miles Davis era assim!

“Someday my prince will come” é o nome do disco e da primeira faixa. É uma verdadeira obra-prima, com direito a participação de Coltrane. Seguem-se “Old Folks”, “Drad-Dog”, “Teo” e o fantástico “hit”, “I thought about you”.

Em sua fase final, Miles Davis fez incursões em outros ritmos. Quem sabe, fosse apenas uma busca por algo mais!? Algo que desse algum sentido à sua vida, que lentamente se esvaía. Um triste momento, devemos reconhecer, para aquele que só merecia aplausos…

https://www.youtube.com/watch?v=kTo9-m1CUZM

MilesDavis_Someday

Disco: CD “Solo Monk”, com Thelonious Monk.

Thelonious Monk foi um desses extraordinários pianistas que ousou bem mais do que a maioria no jazz. Sua melodia tem acordes sincopados e, por vezes, dissonantes. Talvez, por isso, tenha sido “relegado” pela “velha guarda”. Certa vez, um crítico afirmou: “A música de Thelonious é como dar um passo no vazio em plena escuridão”. Pode ser. Afinal, Monk foi rotulado de excêntrico, enigmático e até de louco… Porém, genial!
A verdade, meus amigos, é que não se pode ouvir as canções de Monk a qualquer hora. Lá, isso não! É preciso concentração e estado de espírito. Caso contrário, ficamos fatigados já na terceira ou quarta faixa do disco.

Monk foi preso sob acusação de posse de drogas no início dos anos 50. Indiferente a tudo isso, ele continuou a trajetória, compondo memoráveis canções. “Ask me now” é uma delas: belíssima!

Thelonious Monk exerceu muita influência em outros grandes pianistas. Até Oscar Peterson reconheceu isso em uma entrevista.

Este álbum, intitulado “Solo Monk”, foi gravado em 1964. Chamo especial atenção para a faixa, “These foolish things”. Aí, sim, temos aí o verdadeiro Monk: bem solto, inventivo e… apaixonante!

https://www.youtube.com/watch?v=Q6H6DjPBFOo

T_Monk

JAZZ: Billie Holiday, a grande dama do jazz!

A história da sofrida e atribulada vida de Billie Holiday já foi tema de muitos filmes e documentários, quase todos retratando a infância pobre e amarga da grande dama do “blues”. É sabido, por exemplo, que os infortúnios de Billie só foram atenuados, em parte, pela profunda relação amorosa que estabelecera com sua mãe. Em seu livro autobiográfico, Billie começa nos chocando: “Minha mãe e meu pai eram dois garotos quando se casaram. Ele tinha apenas 18 anos, ela 16… e eu, três”. Pouco depois, seu pai foi-se embora para Nova Iorque, deixando-a desamparada. Com isso, a educação de Billie foi “incumbida” aos parentes, que muito a maltratavam. O que se seguiu, segundo afirmam, virou lenda: Billie mudou-se para Nova Iorque, trabalhou como empregada doméstica, foi prostituta e acabou se tornando a maior cantora do jazz. Certo mesmo é que ela foi uma linda mulher. Habitualmente, vestia-se de branco: sempre a rigor e com uma gardênia enfiada nos cabelos. Era a sua marca registrada! Gravou discos com os maiores músicos existentes e encontrou em Bessie Smith a musa inspiradora de sua fenomenal carreira. Mas, a partir do início dos anos 50, a vida de Billie desceu a ladeira. Fez-se refém do álcool e das drogas e travou uma impiedosa luta contra a dependência à heroína, saindo-se derrotada. Seus últimos anos de vida foram duros e aviltantes. Injustos, até. Afinal, a grande dama tornou-se vítima de um mundo que, desde o início, foi “padrasto” para ela. Faleceu em 1959, com apenas 45 anos de idade!

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Disco: CD “Give it up to love”, com Sam McClain.

Henilton Menezes é meu primo, lá do nosso velho Ceará. É gente muita boa ou como dizem por aquelas bandas: um tremendo “cabra da peste”. Desses que se não fossem parentes, nós adotaríamos de qualquer jeito. Lembro-me de que não o conhecia pessoalmente quando recebi uma ligação dele, no Rio de Janeiro. Estava hospedado no antigo Hotel Nacional, palco dos Festivais de Jazz, onde nossa presença era garantida. Daí, convidou-me para um chope, com direito a um papo gostoso sobre jazz. Pois não é que ele me escreve agora, declarando-se meu leitor. Bem… não foi bem assim… na verdade, ele escreveu para me “esculhambar”. Com seu inconfundível senso de humor cearense, disse: “Pô, vê se escreve sobre gente nova, seu baitola! Não existe só essa velharia, feito você, no nosso jazz!”

Esquecendo os demais palavrões que me disse, que cearense é bicho desbocado mesmo, eu sou obrigado a concordar com ele. Portanto, desculpe-me, Henilton, não foi por querer. Aliás, cá entre nós: estou tão velho assim, com 66 anos? É verdade que as moças, minhas alunas, há tempos já me chamam de “tio”…

Muito bem, primo. Então, está aí o que me pediu. Só falta você não conhecer o Mighty Sam McClain, um negão com uma voz e um suingue de fazer sorrir a galera do velório! “Give it up to love” é o título do disco, gravado em 20 bits, que garante uma qualidade impecável. Agora, se você ouvir “Got to have your love” e não se emocionar, primo, é sinal que o velório acima deveria ser o seu! E já que é assim, aproveite e mande queijo de coalho, rapadura e muita tapioca…

https://www.youtube.com/watch?v=Ca2gbXZExpU

https://www.youtube.com/watch?v=9cSRU8gxyL4

Sam McClain