Jazz: os novos tempos do jazz!

OS NOVOS TEMPOS

É bastante comum ver pessoas mais idosas alegando que “no seu tempo era tudo diferente” ou coisa que o valha. Sei bem. Eu acredito que todos percebem que as coisas ficaram mais difíceis. Com o correr do tempo, meus amigos, nós perdemos um pouco daquele atendimento “pessoal” a que estávamos acostumados. É que nesses tempos bicudos a pressa tomou conta da humanidade e, ao que tudo indica, não poupa ninguém!
Também é verdade que existe um perigoso processo que busca cada vez mais acelerar as demandas, sejam elas quais forem. Assim, ao sairmos de casa, já ligamos o GPS para saber o melhor caminho a seguir. Depois, no trabalho, efetuamos diversas reuniões na busca das soluções mais práticas e velozes respostas. Ao fim do dia, convenhamos, nos sentimos exaustos sem saber por qual motivo… e aí? O que fazer?!
Na verdade, as possíveis soluções são sempre individuais e, no fundo, não há receita milagrosa. O que vale mesmo é encontrar um “jeito certo” para harmonizar nossos sedentos espíritos. E aí, novamente, caberá a cada um de nós encontrarmos a forma de reequilíbrio. Ou não, como diria Caetano…
O que sei dizer é que essa peleja não é fácil de jogar, minha gente. Há quem passe a vida inteira sem conseguir encontrar o seu “jeito”… Paciência, fazer o quê?!
E já que eu citei o Caetano, então, não custa lembrar outra frase dele: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é!”

(Assim como ocorreu no jazz, em todos os tempos, sempre haverá o sentimento de vivermos “novos tempos”.)

Disco “Desafinado” – Coleman Hawkins

Essa vida é mesmo curiosa, meus amigos. Vejam vocês: enquanto estava almoçando, eu assistia ao programa da TV. Nele, havia uma rica discussão sobre o casamento. Eram várias opiniões que se revezavam e, vez por outra, o tema escorregava para outras questões, o que era natural e pertinente. Até que, lá pelas tantas, um dos entrevistados soltou uma frase intrigante: “…quem não sabe de onde veio, nunca vai encontrar o seu destino…” Olha, confesso a vocês que fiquei com aquela frase na cabeça. Por algum motivo, ela encontrou eco nas minhas emoções…
De imediato, eu quis saber a origem dessa frase ou pensamento. Até que descobri que a referida frase é, na verdade, um ditado muito comum nas Filipinas. Segundo consta, o ditado foi criado com forte carga moral e filosófica, com o objetivo de provocar a seguinte reflexão: “sem conhecermos as nossas raízes, não saberemos determinar a nossa missão de vida”. Simples e maravilhoso, não acham?
Pois não é que o disco que trago hoje, como recomendação, é exatamente assim: simples e maravilhoso?! É o CD “Desafinado”, de Coleman Hawkins, gravado em setembro de 1962. Céus… não existe nada mais precioso nessa vida do que ouvir “O pato” tocado pelo harmonioso sax de Coleman. Ele simplesmente consegue derramar toda doçura do mundo nessa magistral composição criada por Jayme Silva e Neuza Teixeira, e que foi imortalizada na voz de João Gilberto. Um verdadeiro espetáculo, isso sim!
Outra canção que Coleman Hawkins nos presenteia é, por certo, um dos mais populares “hits” da bossa-nova: “Desafinado”, de Tom Jobim e Newton Mendonça. E o mais interessante de tudo é que nessa belíssima faixa Coleman Hawkins conseguiu criar um clima igual aos vividos no Beco das Garrafas dos anos 60, na Copacabana majestosa e ainda inocente…
O que sei dizer, minha gente, é que o ditado filipino é procedente à medida que somente quando entendemos as nossas origens é que podemos dar conta dos nossos destinos. E no caso brasileiro, eu acredito que não fosse o chorinho e o samba-canção, jamais teríamos criado a bossa-nova!

Recordações de Salvador – Parte 2 / 2

Uma das primeiras coisas que aprendi quando comecei a viajar, aos 16 anos de idade, foi a percepção de que deveria me desatar de qualquer julgamento prévio sobre o lugar da visita. Isto porque, convenhamos, minha gente, tal comportamento é o que mais nos atrapalha nos passeios e incursões. Quando se está com o espírito livre e desembaraçado, céus, as coisas acontecem espontaneamente e, quase sempre, de modo arrebatador!
Além disso, outra receita infalível é conversar com as pessoas da região e demonstrar interesse nos hábitos e nas origens das culturas locais. Por conta desse comportamento, creiam-me, geralmente temos ótimas surpresas. E ainda por cima corremos o risco de “crescermos” espiritualmente!
Lembro até que no nosso segundo dia, em Salvador, nós estávamos passeando pelo bairro do Rio Vermelho, após a visita a casa de Jorge Amado e Zélia Gattai, quando resolvemos caminhar sem rumo. Em dado momento, não é que descobrimos uma pequena agência de viagens e ali contratamos uma excursão para Ilha do Frade, na Baía de Todos os Santos? Caramba! Foi um passeio maravilhoso, pois o lugar é lindo, cheio de surpresas. Um verdadeiro refúgio, meus amigos…
E assim foi durante toda a viagem. Cada dia nós íamos para um lugar diferente e sempre nos surpreendíamos. Tudo isso sem falar das “trocentas” igrejas, cada qual com a beleza própria, que é a marca daquele povo brioso e cheio de vida!
Caetano Veloso, um baiano pra lá de bom, já nos disse um dia, em verso e prosa: “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é…”
Tem razão, parceiro… E nada mais precisa ser dito!

 

Recordações de Salvador – Parte 1 / 2

Há quem afirme que o baiano não nasce. Ele simplesmente “estreia”!
Talvez seja assim, minha gente, embora eu não posso afiançar. Mas que tem tudo para ser verdade, lá, isso tem. O que posso assegurar é que aquela gente é muito mais esperta do que nós. Sabem viver bem. A prova disso é já faz tempo que eles largaram para trás o tal do “stress”. Enterraram em um canto qualquer da cidade e ninguém deu falta… Ainda bem!
Aliás, foi em 2014 que eu tive o privilégio de passar uma semana inteira naquela abençoada terra de Todos os Santos. Sim, não é à toa que todos os santos protegem aquela gente. Porquanto eles fazem por merecer. São gentis, bem humorados e recebem a todos com os braços mais abertos do que o Cristo Redentor.
Eu havia ido a Salvador apenas uma vez e isso já fazia muito muito tempo. Portanto, a imagem que eu guardava era de uma cidade suja e que cheirava mal. Ledo engano. Salvador se modernizou. Construiu novas avenidas e revitalizou toda a orla, dando ares de moderna metrópole, sem perder o agradável “jeitinho” de província. Daí porque você anda por todos os lados e é sempre recebido com largo sorriso e a calma baiana que, de tão espetacular, chega a “irritar” os mais apressadinhos. Coisa linda!
Um dos primeiros passeios que fizemos foi visitar a casa de Jorge Amado, no bairro do Rio Vermelho. Meu Deus do Céu, o que foi aquilo?! Dá vontade de morar ali, meus amigos, tal é o aconchego que sentimos. Em cada cômodo da casa nós temos uma imensa surpresa. Pois aos olhos de todos, logo nos primeiros momentos, fica evidente o prazer que o casal tinha em receber amigos para uma boa prosa. Jorge e Zélia, ao que tudo indica, foram muito felizes naquele espaço majestoso. E deixaram inúmeros registros dessa felicidade espalhados nas diversas salas e quartos daquele encantado lar. O visitante que aceita passar o dia na “Casa do Rio Vermelho”, por certo, será recompensado ao acolher os bons fluídos que emanam de lá…

Disco: Jazz, My Romance – Ron Carter

No tempo em que era um jovem professor eu fiz uma escolha pessoal que muito me valeu. Por certo, meus amigos, essa escolha foi acontecendo aos poucos e quando me dei conta, já estava imbuído desse atributo. Também é verdade que muitas pessoas foram responsáveis por essa lenta transformação, uma vez que a gente aprende com todo mundo. Sim. Com todo mundo mesmo! Basta ter um coração disponível e uma mente aberta e, no fundo, há sempre alguém para nos ensinar algo novo, não é verdade?
Lembro também que o primeiro impacto que recebi nesses “aprendizados” foi por intermédio de uma antiga namorada. Ela era uma pessoa diferenciada e via o mundo por um olhar muito particular e próprio. Ao seu lado, encantava-me tremendamente experimentar cada dia uma nova descoberta. Aprendi muito com ela e guardo as melhores recordações que se pode ter.
Contudo, alguém poderá estar inquieto ou curioso em demasia a ponto de indagar-me: “afinal, sobre o que você se refere, Carlos?” Tudo bem, eu digo: estou me referindo à elegância, ao bom-tom, ao refinamento natural que encontramos em tudo nessa vida. Sem pedantismos ou frescuras. Apenas bom gosto, minha gente! E isso não “custa” nada a mais, além do olhar apurado.
Veja o caso desse CD, “Jazz, My Romance”, do extraordinário Ron Carter. Ele é a síntese de tudo que escrevi até agora, pois guarda em cada melodia a sabedoria de tocar com qualidade e elegância. Meu Deus do Céu, quando sentei para escrever o texto, confesso, nem tinha ideia do que sairia. Mas, bastaram alguns minutos ouvindo Ron Carter com Herb Ellis na guitarra e Kenny Barron no piano e, “voilà”, tudo se abriu em minha frente…
Portanto, quero agradecer a essa antiga namorada que me abriu as portas do mundo (literalmente) e a todos que me ensinaram algo de bom e propiciaram esse maravilhoso reencontro com o mestre Ron Carter. Abençoados sejam!

https://www.youtube.com/watch?v=Eg0z2HRWH6A&list=PLD1Eb4mn7NHMpe8rN-r83KyAqv4jy7rQu

Ron Carter_Jazz_My_Romance

PELAS RUAS DO RECIFE (Final)

Viajar, meus amigos, talvez seja uma das coisas mais prazerosas dessa vida. Principalmente, quando a gente se permite experimentar novos olhares e novas sensações, sem julgamentos prévios sobre o que vem pela frente. Quase sempre a resposta é positiva e quem lucra com isso somos nós.
Há duas semanas atrás estávamos eu, minha esposa e o nosso filho desvendando os caminhos do Recife. Confesso a vocês: foi uma das mais belas viagens que fizemos. Porquanto a atmosfera do velho Recife conspira favoravelmente, propiciando ao turista descobertas sensacionais. São sensações que vão dos sabores e aromas da culinária ao colorido intenso das paisagens. Tudo isso, é verdade, regado ao bom tempero do humor pernambucano e a diversidade cultural que ali se vislumbra.
Curiosamente, a primeira percepção que tivemos sobre os pernambucanos foi inusitada. Eu explico. É que quando eles estão conversando, muitas vezes, parece até que estão tendo uma acalorada discussão. Isto porque o jeito de falar deles é vigoroso e, algumas vezes, soa áspero. Contudo, se você se dirige a qualquer pessoa e pergunta algo, aí, sim, a gentileza é a tônica. Param para ouvir e respondem com todo interesse e delicadeza.
Outro aspecto que nos impressionou na viagem é que o turismo praticado por eles é cuidadoso e não predatório como vemos em tantos lugares por aí. Os preços são condizentes e não aviltam o bolso do viajante. Come-se muito bem por um preço justo.
Aliás, na véspera do nosso retorno, minha gente, eu fui conhecer o famoso restaurante “Parraxaxá”, especializado em comidas típicas nordestinas, tais como “carne de sol”, feijão de corda, escondidinho de macaxeira e farofa de bolão. Tudo isso sem falar do bolo Souza Leão, da Cartola e do doce de jaca, uma vez que a tapioca eu já conhecia do meu Ceará.
Por último, resta falar da incrível diversidade cultural. Afinal, Recife não respira apenas o frevo. Muito ao contrário, aonde quer que se ande encontramos espaços culturais devidamente explorados com orgulho e tradição. Que vão do Centro Histórico, no “Marco Zero”, ao deslumbrante Instituto Ricardo Brennand, com o seu majestoso palácio medieval. Ah, Recife… nos aguarde. Já, já estaremos de volta. Com certeza!

Disco: “Diagonal”, de Johnny Alf

Não sei se vocês vão concordar comigo. Mas, com o passar do tempo, torna-se cada vez mais comum a gente cultivar um certo “saudosismo”. Isto porque, convenhamos, quando se fica mais velho aumenta também o “banco de memórias” e talvez com o medo de extraviá-las a gente se “agarra” aos episódios mais significativos que foram vividos. Parece até um mecanismo de autodefesa, inocente e sem grandes consequências. Sei lá, pode bem ser verdade. Contudo, na dúvida, é preciso ficarmos atentos aos caminhos e descaminhos que isso pode acarretar. Afinal, nunca se sabe…
No meu caso, meus amigos, acredito que pelo fato de ter 67 anos e ter vivido intensamente minha infância, juventude e a fase adulta, eu possa “escorregar” aqui e acolá nessas rememorações. No entanto, não sou dessas criaturas que acham que o melhor da vida foi na “sua época”. Lá, isso não! Para mim o que vale são os bons episódios, sejam eles longínquos ou recentes, pouco importa.
Vejam o exemplo desse CD do grande Johnny Alf, intitulado “Diagonal”. Quando bati os olhos nele na loja de raridades que havia na rua Augusta, em São Paulo, confesso que fiquei entusiasmado, pois sou fã de carteirinha da nossa bossa-nova e Jonnhy Alf foi um mestre. Mas é aquela velha história: tem coisas que efetivamente “prescrevem” com o tempo. E pelo visto é bem o caso. Não que o CD não tenha valor, minha gente. Porém, eu acho que ele “envelheceu” e não impressiona mais a gente como ocorria na época…
Eu ouvi atentamente as doze melodias mais de uma vez e, ainda assim, não me senti remetido ao velho Beco das Garrafas, na Copacabana que conheci na minha mocidade.
Vale muito mais como “documento histórico” do que o CD dos nossos sonhos. Tanto é verdade que ao guardar o CD na minha estante, ele acabou ficando na parte de trás. Aquela parte que pouco se vasculha e que acaba acumulando mais pó que as outras…
Paciência, fazer o quê?!

Música: Astor Piazzolla para sempre!

Eu bem sei que o tempo voa mais rápido que a história. Por vezes, nem mesmo os pensamentos conseguem acompanhar o seu ritmo. Verdade mesmo é que, algumas vezes, isso dói um bocado. Eu explico. É que eu estava remexendo no diretório de fotos no computador e, de repente, acabei me deparando com algumas que não me lembrava mais… Eram fotografias de quando eu cheguei em Floripa, em 1997. Ao observar uma delas, no apartamento na Lagoa da Conceição, lembrei-me do período que ela representava. Eu havia recém-chegado do Rio de Janeiro, após a aposentadoria especial de 25 anos de magistério e, além disso, eu acabara de sair de um casamento. Como é comum nessas horas, eu estava doído e fragilizado. Por isso, Florianópolis representava uma espécie de “terra prometida”, onde encontraria o meu paraíso e a minha bem-aventurança!
Foi o período que mais escutei jazz. É bem verdade que foram momentos de muita reclusão e, por conta disso, requeriam sons mais intimistas, mais contemplativos. Daí a minha escolha ter recaído em alguns “especialistas”, como o foi o caso de Gerry Mulligan. Sem dúvida, uma baita músico!
Mulligan é um virtuose no sax barítono, instrumento no qual tornou-se, talvez, a maior referência mundial. Consegue extrair um timbre riquíssimo daquele sax, com improvisações extremamente melódicas. Seu sopro está quase sempre impregnado por atmosfera mais intimista. Por isso, foi um dos principais expoentes do “cool jazz”, participando das gravações do célebre disco do trompetista Miles Davis, “Birth of the Cool”.
Ah, ao ver uma outra foto da mesma época, 1997, lembrei-me de um outro disco de Gerry Mulligan, “Summit” ou “Reunión cumbre”, gravado em 1974 com o genial Astor Piazzolla. Coisa linda!

https://www.youtube.com/watch?v=FDwahjiQ_5g&feature=share

Disco: “Porgy & Bess”, Oscar Peterson e Joe Pass

Quase todo mundo conhece ou já ouvir falar sobre a magistral ópera jazzística dos irmãos Gershwin, “Porgy and Bess”. Isto porque a consagrada obra foi executada pela primeira vez em 1935. De lá para cá, inúmeras montagens já foram apresentadas nos quatro cantos do planeta. E em quase todas, posso imaginar, deve ter sido um tremendo sucesso.
O que eu posso dizer, minha gente, é que eu tirei a “sorte grande” quando fui assistir ao espetáculo que foi encenado no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, em 1986. Meus Deus do Céu, o que foi aquilo? Para que tenham ideia da singularidade do evento, o teatro estava totalmente lotado e nos corredores e escadarias havia um “frisson” pairando no ar… Decerto, aquele majestoso teatro merecia isso. E no palco, tínhamos os talentos de Willard White (Porgy) e de Cynthia Haymon (Bess) ditando o andamento da ópera e, de algum modo, libertando os nossos corações. Afinal, a obra de George Gershwin é impecável e as melodias construídas com o irmão Ira Gershwin tornaram-se imortais. “Summertime” talvez seja a canção mais conhecida da ópera mas, justiça seja feita, não se pode negar o extraordinário valor de “It Ain’t Necessarily So”, “Bess, You Is My Woman Now”, “I Loves You Porgy” e “I Got Plenty o’ Nuttin'”.
Este CD, “Porgy & Bess”, de Oscar Peterson e Joe Pass contempla bem mais do que as belas canções. Porquanto ele nos apresenta um outro viés, ao introduzir o “clavicórdio”, instrumento tipicamente erudito, no ambiente jazzístico. Só mesmo Oscar Peterson se atreveria em enfrentar tamanho desafio. E, verdade seja dita: saiu-se vitorioso!
De resto, lembro apenas que aquelas melodias tomaram conta da minha alma. Coisa linda… “I love you Porgy”, era o pranto daquela sofrida mulher ecoando em todo o teatro. E eu, emocionado com o grito, respondia em meus pensamentos: “Bess, you is my woman now”!!

Disco: “Sweet and Lowdown”, trilha sonora do filme de Woody Allen.

Foi em 1967 que eu tive o primeiro contato com ele. De lá para cá, confesso: nunca mais pude me separar de suas histórias, sejam elas hilárias ou dramáticas. O que sei dizer é que Woody Allen responde, de certo modo, pelo nosso “inconsciente coletivo”. Afinal, ele é o cara! Sim, meus amigos, Woody aceitou encarnar os mais variados papéis do sujeito “desajeitado”, incapaz de lidar com os mais simples afazeres cotidianos, pois estará sempre questionando a todos e, principalmente, a si próprio. E sem que isso traga no bojo outros estereótipos, além do seu consagrado “neurótico de carteirinha”. Por tudo isso, então, Woody Allen tornou-se o nosso anti-herói preferido. Por certo, ele é o meu!
Este CD traz a trilha sonora original do maravilhoso filme produzido em 1999, intitulado “Sweet and Lowdown” e que aqui no Brasil foi convertido (argh!) para “Poucas e boas”. Aliás, o título original do filme é baseado na canção “Sweet and Low-Down”, do genial compositor George Gershwin. Curiosamente, vejam vocês, esta música esteve presente em outro filme de Woody Allen: uma das obras-primas dele, “Manhattan”, de 1979.
Quanto ao disco, são 15 excelentes canções, escolhidas a dedo, para homenagear os “mestres do jazz”. Tanto é verdade que no filme o personagem de Sean Penn (Emmet Ray) toca um violão Selmer Maccaferri, modelo 1932. Por sinal, ele é o mesmo tipo de instrumento que o famoso Django Reinhardt costumava usar. Daí porque o enredo do filme gira em torno dessa bela homenagem ao músico belga. Coisa linda!
Portanto, minha gente, são duas dicas que estou sugerindo, ao mesmo tempo: o filme e o CD. E tenho certeza de que tanto um quanto o outro serão capazes de emocionar e promover um verdadeiro deleite. Então, mãos à obra!