Disco: CD “The best of two Worlds”, com João Gilberto, Miúcha e Stan Getz.

“Eta, disquinho danado de bão, sô!”, exclamaria o meu amigo Paulo Assis Brasil. É… tem razão, Paulinho. O disco é memorável e deveria fazer parte de qualquer “cedeteca” que se preze. Aliás, a gravação já completou quarenta anos e, ainda assim, a gente escuta com o maior prazer! É que esse tal de Stan Getz é realmente um “capeta”. Consegue nos fazer sorrir até em velório… E a nossa Miúcha, então, “conversando” com o João Gilberto? Meu Deus, que maravilha! Não é à toa que os gringos, lá fora, até hoje reverenciam a nossa eterna bossa-nova. Pudera! Basta ouvir “Lígia” ou “É preciso perdoar” ou “Falsa Baiana”. Mas, se por acaso houver algum leitor renitente, então, apelo para “Retrato em branco e preto”. Aí, meus amigos, até o sacristão esquece a missa ao ouvir esta canção! “Pô, fala sério, Carlos”, diria o nosso prezado “Dr. Casseta”. Céus, queiram me desculpar…  É que, às vezes, a emoção me pega de surpresa, sabe como é?! Embora eu não seja ufanista, percebo que o “espírito brasileiro” está muito arraigado em mim. Mais ainda quando vejo um “peso pesado”, feito o Stan Getz, “beber” a nossa água. E anotem aí: depois dele, é verdade, muita gente veio à nossa fonte na certeza de saciar a sede. Chet Baker, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e tantos outros monstros sagrados. É aquele tal negócio: “eles” sabem o que é bom. Agora, só falta o brasileiro reconhecer o seu próprio valor…

“Eta, disquinho danado de bão, sô!”

https://www.youtube.com/watch?v=r8VoytrAKPI

Getz_JGilberto

Jazz: quando a “inspiração” comete suicídio…

Foram muitos os músicos de jazz que sofreram com o uso das drogas. Billie Holiday, por exemplo, experimentou um declínio agonizante. Tanto que, em dado momento, ela declarou: “Tudo que as drogas podem nos trazer é a morte. E a morte é rude e lenta…” Chet Baker foi internado, algumas vezes, para tratamento contra a heroína, e pouco adiantou. As diversas prisões alteraram profundamente a carreira dele. Tornou-se uma criatura triste. Acredita-se até que a sua morte, em Amsterdam, tenha sido suicídio. Charlie Parker, outro fabuloso ícone do jazz, sentiu na pele a aspereza da vida ao encontrar-se com as drogas. Miles Davis também, e muito do seu talento se esvaiu, assim como a sua própria vida. Eu ainda poderia citar dezenas de outras “vítimas”, mas me nego a essa divulgação em respeito ao jazz! É muito duro aceitar tudo isso sem se consternar e, ao mesmo tempo, sem se indignar. Afinal, foram carreiras e mais carreiras prejudicadas em nome de uma “suposta” inspiração. Não, meus amigos! Positivamente não é por aí que se encontra a chama da arte e do talento, muito embora sejamos benevolentes quando se trata de grandes músicos. Sou profundo admirador da “obra” desses gênios, mas repudio esta escolha em suas vidas pessoais. Desculpem-me pelo enfatismo. Não sou “patrulheiro” e sim professor. E em 35 anos de magistério, creiam-me, presenciei dramas terríveis envolvendo jovens dependentes de drogas…

É triste. Muito triste, meus amigos!

Memórias: João Pedro, vovô te ama!

Já que hoje eu tirei o dia para homenagear o meu querido João Pedro, lembro que na semana passada ele veio nos visitar e matar as nossas saudades.
Após o almoço, antes do “soninho” restaurador, aproveitamos para assistir aos desenhos prediletos dele: o “Mundo Bita”!!

JP e o mundo Bita

João Pedro e o Mundo Bita

Jazz: Bessie Smith e os primeiros “blues”…

Pode-se dizer que os primeiros “blues” apresentavam um estilo rude e estridente, quase desagradável de se ouvir, porquanto se assemelhavam muito aos “gritos” do tempo da escravidão. Eram melodias construídas em compassos de doze notas, estabelecendo um padrão, e contavam as aventuras e os infortúnios dos que perambulavam pelo Sul dos Estados Unidos. Os homens foram os primeiros a cantar blues. Com guitarras penduradas nos ombros, primitivos cantores utilizavam a matéria-prima que vinha do reservatório das canções populares afro-americanas. As letras das canções eram tristes e pesarosas e, quase sempre, expressavam forte estoicismo. Mas, até onde se sabe, a origem do “blues” veio da música branca, por conta da influência dos cânticos religiosos…

Quanto às mulheres, elas só começaram a realizar temporadas em teatros e espetáculos de rua no início da década de 1900. No entanto, curiosamente elas alteravam muitas letras e mudavam os temas para os “problemas do amor”. Sorte a nossa, isso sim, pois essas almas femininas selaram de vez os destinos do “blues” e nos legaram verdadeiras pérolas. Ao aliviarem as suas dores com os fortes “gritos”, as mulheres renovavam as esperanças. Esperanças de que seus homens voltassem “vivos” após a dura jornada de trabalho. Esperanças de que os carinhos pudessem vir com eles. E, sobretudo, esperanças de que o mundo estendesse a mão caridosa e abençoasse o imenso amor que continham por seus homens. O que sei dizer, meus amigos, é que de um jeito ou de outro nós temos que agradecer intensamente a essas mulheres: seja por seu amor, seja por seu lindo canto!

 

 

Filme:  Bessie Smith – St. Louis Blues (1929)

Jazz: as raízes do jazz e do “blues”.

Há quem diga que o “verdadeiro jazz” morreu muito jovem, pois viveu pouco mais de duas décadas. Algo em torno de 1914 a 1938… por aí. Proclamam que depois disso o jazz foi reencarnado em outros ritmos… porém, desvirtuado. Honestamente, não concordo com essas opiniões. Até porque, convenhamos, os anos 40 e 50 foram extraordinários em produções melódicas e intérpretes maravilhosos. O “cool jazz”, por exemplo, nasceu logo após a morte de Charlie Parker (em 1955) e perdura até hoje. Graças ao talento de músicos como Chet Baker, Lester Young, Stan Getz, Paul Desmond e tantos outros, pudemos ouvir belíssimas composições que – juntamente com “swing”, o “bebop” e o imortal “blues” – sempre fizeram a alegria da rapaziada. Na verdade, eu chego a pensar que tais opiniões se baseiam no fato de que o “cool jazz” sempre foi encarado como uma música “cerebral” e feita por brancos. E aí, novamente, discordo! Meus Deus do Céu, quem ouve o trompete “lamentoso” de Chet Baker ou o sax “triste e intimista” de Stan Getz, com certeza há de sentir que ambos os corações pulsam mais que os respectivos cérebros, sejam eles negros ou brancos! Pura emoção, isso sim! O resto, convenhamos, é “história da carochinha” ou coisa de gente invejosa, que jamais criou algo belo nessa vida.
Portanto, meus amigos, o que acredito mesmo é que o jazz nunca morreu. Ou, então, é feito “aquele” gato: tem sete vidas!

Disco: CD “All my tomorrows”, com Grover Washington Jr e Freddy Cole.

“O tratamento será rápido e indolor, Carlos. Fique tranquilo. E de mais a mais, eu tenho aqui um novo disco que você vai adorar!”

Olha, minha gente, só assim eu criei coragem para me deitar naquela cadeira. Confesso: sou profundamente “covarde” na frente de um dentista. Fazer o quê?! Vai ver que em outras vidas eu “aprontei” alguma…

Verdade é que o Gilmar Moretto, meu dentista, deveria ser psicólogo, pois tem uma tremenda “lábia” e convence qualquer um a aceitar a dor. Só ele!

O resto ficou por conta do sax de Grover Washington que lentamente foi me anestesiando. A primeira dose foi em “I’m glad there is you”. Meu Deus, que maravilha. Um tremendo sopro: contido e intimista. E ele segura o clima “noir” até a entrada do belíssimo vocal de Freddy Cole. Mais parece uma daquelas canções de baile de debutantes, com a orquestra de Ed Lincoln seduzindo a galera e aonde se dançava de rosto colado e se fazia juras de amor à moça. Ah, eram bons tempos, meus amigos!

Ai, chegou a vez de “Overjoyed”. Céus, até parei de pedir guardanapo, pois já estava “babando” de todo jeito. E eu ali: literalmente de boca aberta. “Arrebatado” por aquela melodia e, já anestesiado, sonhava à vontade! E nos meus sonhos, ah! que delícia, ela me oferecia carícias maravilhosas, dessas que parecem não ter fim.

O que posso dizer, minha gente, é que até hoje não sei qual foi o dente que tratei o canal. O Gilmar jura que foi o último molar. Mas, agora… que diferença isso faz?!

 

https://www.youtube.com/watch?v=GBmUgLvVtPY

 

https://www.youtube.com/watch?v=x5vkXoAa7ic

 

Grover_Cole

Literatura: Manuel Bandeira e o reino encantado de “Pasárgada”.

Meu querido tio, Holdemar Menezes, deixou muitas saudades e, também, memoráveis histórias. Certa vez, o “nego velho” sentou-se na confortável poltrona que existia no escritório de sua casa para me contar como o poeta Manuel Bandeira criou o antológico poema “Pasárgada”. Aliás, Holdemar era uma dessas pessoas de voz serena e pausada, sempre disposto a um gostoso papo literário. Falava como se tivesse a absoluta certeza de que eu me emocionaria com a história. O pior é que ele tinha razão. Sempre! Contou-me, então, que Manuel Bandeira ainda era adolescente e aluno de grego no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, quando o “tema” surgiu. Numa determinada aula, o poeta ficou encantado em saber que Ciro, fundador do Império Persa, possuía uma cidadezinha onde passava os verões. Daí, o imaginário do poeta iniciou a construção… Bem, eu não asseguro se foi exatamente assim que ocorreu a criação, mas, convenhamos, isso pouco importa. O certo é que até hoje eu acredito nessa “bela história” e repasso esse legado aos meus alunos. Então, quem quiser que conte outra!

Verdade é que eu não tenho uma “Ciropédia” nem uma “Pasárgada” para passar os verões da minha vida, mas possuo Florianópolis, que suplanta todas as cidades do mundo. Ah, lá, isso sim! Isto aqui, meus amigos, é um paraíso abençoado, capaz de saciar os olhos de qualquer criatura ávida pelos verdes das encostas e do profundo mar. Esta ilha, tão cantada em verso e prosa, tornou-se o meu “porto seguro”. Mais do que isso: tornou-se o meu “Farol de Alexandria” e a Pasárgada que tanto sonhei. Floripa mantém o mesmo encantamento e a mesma magia narrada pelo poeta, e recebe a todos com um brilho inigualável estampado na cara. Ilha feiticeira, imponente e orgulhosa. Ilha da mulher rendeira e do pescador solitário de hábitos simples. Por onde quer que se ande, encontra-se uma gente feliz e sorridente. Indiferentes ao progresso, à agitação dos grandes centros, mas nem por isso menos sábios no “sentir”. Oxalá eu possa viver cem anos, só para acompanhar a sua indisfarçável beleza! E tomara que a vida conserve minhas pernas sempre saudáveis para que eu possa tomar a orla da Lagoa da Conceição e me deliciar com poente ensanguentado, tombando logo após as dunas…

Manuel Bandeira nos mostrou, com orgulho, a sua imaginária cidade: “Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei / Em Pasárgada tem tudo / É outra civilização / Tem um processo seguro / De impedir a concepção / Tem telefone automático / Tem alcaloide à vontade / Tem prostitutas bonitas / Para a gente namorar”.

É, meu querido poeta, sorte a sua. E sorte a minha, pois também tenho a mulher que eu quero ao meu lado… Isso é bom demais! Talvez, para ser fiel e justo, eu devesse festejar ao seu estilo: “Montarei em burro brabo / Subirei no pau-de-sebo / Tomarei banhos de mar! / E quando estiver cansado / Deito na beira do rio / Mando chamar a mãe-d’água / Pra me contar as histórias / Que no tempo de eu menino / Rosa vinha me contar… / E quando eu estiver mais triste / Mas triste de não ter jeito / Quando de noite me der / Vontade de me matar / Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do Rei”.

De um jeito ou de outro, eu peço a sua bênção, meu poeta!

Manuel Bandeira

Manuel Bandeira (RECIFE, abril de 1886 — RIO DE JANEIRO, outubro de 1968)

 

Disco: CD “The Tony Bennett / Bill Evans Album”.

Eu tenho uma amiga que adora vocalistas. Até aí, estamos empatados. Eu também gosto. Mas, o diabo é que ela só ouve pagode. Olha, minha gente, pelo amor de Deus, eu não tenho nada contra os “pagodeiros”. É que, simplesmente, não faz o meu estilo de música. Não me “transporta”! Além disso, soa tudo igual…

No entanto, a verdade é que o universo gosta de conspirar e adora “aprontar alguma” com a gente. Não é que um dia, às vésperas de um Natal, eu tirei o nome dela em um “amigo-secreto”, cujo presente deveria ser um CD. “Céus, estou em apuros”, pensei. “Como é que eu saio dessa enrascada, meu Padim Padre Ciço?!”

Em pânico, fui para casa já pensando em desistir. Acabei entrando numa loja de discos, no shopping do bairro. Varri todas as prateleiras e após algumas horas, bati os olhos nesse CD do Tony Bennet e Bill Evans. Caraca.. será que vai dar certo, pensei?!

Bem, decidi levar o disco, embora com muito temor. Mas, para minha surpresa… não é que ela adorou?! Falou-me maravilhas do disco. Aí, acabei me convencendo e comprei outro igual para mim. Agora, tenho que confessar: é simplesmente lindo! Ouçam “My foolish heart” ou “Days of wine and roses” e, certamente, concordarão comigo. Coisa linda!
Como nem tudo são flores, o único “probleminha” é que ela também tirou o meu nome no “amigo-oculto”… Adivinhem qual foi o disco que eu ganhei?! Argh… pagode!! Estou doando ao primeiro interessado que aparecer… alguém se habilita?!

https://www.youtube.com/watch?v=nAxGfEaUoXE

Bennett_Evans

Jazz: as lendas do jazz!

Existem muitas lendas no jazz, minha gente. É bem verdade que algumas delas são complicadas de se explicar. Talvez a mais difícil seja quanto à própria origem do jazz. Há quem afirme que o jazz nasceu em Nova Orleans, quem sabe porque fosse uma cidade alegre e repleta de músicos negros?! Muito embora essa ideia seja “tentadora”, no entanto, devemos reconhecer que Nova Orleans não foi o berço dessa maravilhosa música. Na realidade, até onde se sabe, o jazz brotou em vários cantos daquele país. Simultaneamente. Em Nova Orleans, por exemplo, as “creole bands” apareciam no cenário musical, ditando o ritmo. Já em Chicago, Kid Ory fazia um sucesso estrondoso. Enquanto isso, Fats Waller seduzia Nova Iorque, Louis Armstrong encantava os passageiros dos “riverboats” no Mississipi e Count Basie e Jimmy Rushing faziam a festa em Kansas City. Ou seja: o fato é que existiam grandes músicos espalhados pelos quatro cantos dos Estados Unidos. Lá, isso sim! Daí, então, cada cidade procurou tirar uma “casquinha”, reivindicando o status de “berço do jazz”. No fundo, o que importa mesmo é que o jazz nasceu lá nas terras do “Tio Sam”. Depois disso, sabemos bem, ele invadiu todas as fronteiras no mundo e se firmou como música universal. Por sinal, com muito mérito!

Música: “A massa”, de Raimundo Sodré.

Ah, minha gente, vocês não imaginam o prazer que foi encontrar na internet as belíssimas canções de Raimundo Sodré. Um verdadeiro “néctar!
Raimundo é um “cabra danado” de bom! Desses cuja “nordestinidade” atravessou o mundo e foi até Paris encantar aquele povo.
O que posso dizer é que Raimundo deixou marcas profundas nas pessoas da minha geração, porquanto ele conseguiu “romper com o mundo e queimar seus navios…”. Muito embora, tenha pago um alto preço por esta coerência. Mas, ainda assim, valeu a pena… Lá, isso é verdade!
Portanto, abençoado seja, meu querido Raimundo Sodré.

https://www.youtube.com/watch?v=jLJxpegJTQo&feature=share