Dizem que Ariano Suassuna gostava de uma boa prosa. Certa vez, em 2013, ele esteve aqui em Florianópolis para uma daquelas memoráveis palestras, regadas com o maravilhoso senso de humor nordestino. Pois, então, em dado momento ele falou do fascínio que tem pelos “loucos”, uma vez que estes veem a vida por um prisma particular e diferente. Segundo Suassuna, os escritores também são assim, ou seja, ao enveredarem na ficção, acabam adquirindo olhares e percepções peculiares. Sim! De fato, tem ele razão, meus amigos, uma vez que a “loucura” desencadeia a subversão do “senso comum” e estabelece parâmetros próprios de comportamentos e manifestações.
Tudo isso me lembrou o “causo” que Ariano contou durante a palestra. Segundo ele, ao caminhar pela praça principal de uma pequena cidade no interior pernambucano, Suassuna deparou-se com um sujeito que estava com a cabeça encostada no muro já por um longo tempo, como se tivesse escutando algo. Então, curioso, Ariano sentiu-se tentado a encostar a cabeça no intrigante muro. Ficou um bom tempo aguardando alguma resposta e nada. Voltou ao muro, deu mais um tempinho e, daí, comentou com o sujeito: “ué… eu não estou ouvindo nada!” E o sujeito, de bate-pronto, retrucou: “pois é… está assim desde ontem…”
Sendo assim, movido por essas lembranças, eu me deparei com esse disco, “Sonny Side Up”, de Sonny Rollins, Dizzy Gillespie e Sonny Stitt. Afinal, são três “fios desencapados”, capazes de muitas travessuras no jazz… E agora, José?!
