Memórias:  apesar de tudo, os sonhos são eternos!

Desde muito jovem eu já acreditava que a gente deve perseguir os sonhos até onde pudermos. Agora, se eles vão se realizar ou não, aí, são outros quinhentos! O importante, creio, é a gente fazer a nossa parte e deixar que o tempo e o destino se encarreguem do resto.

Como exemplo, eu me lembro desse magnífico filme, “Nunca te vi, sempre te amei” (o título original é “84 Charing Cross Road”), que desencadeou em mim uma incontrolável vontade de conhecer a livraria dos “meus sonhos”…

Pois é. O que sei dizer é que por duas vezes eu tive a oportunidade de ir a Londres. Quando lá estive pela primeira vez, em 1976, o filme ainda nem existia, pois foi concebido em 1986. Depois disso, voltei em 2014 e, obviamente, não podia perder a chance de realizar o acalentado sonho. Sendo assim, fui até a simpática “Charing Cross Road”, atrás do número 84. Então, após uma longa e bela caminhada, chegamos… Que pena! A livraria não existia mais… desde 1970!

Paciência, fazer o quê?! O sonho permanece ao meu lado…

https://www.youtube.com/watch?v=BQbgZSqAVOc

https://www.youtube.com/watch?v=CN6l5kZFhCs

Disco: CD “Outro sentido” , com António Zambujo.

Tem vezes que a gente se depara com determinadas situações que nos parecem muito familiares. E desse modo, somos capazes de assegurar que já conhecíamos ou, pelo menos, já tínhamos visto aquela situação ou aquela pessoa em outro lugar…

É… parece incrível. Mas foi o que me ocorreu quando escutei pela primeira vez a voz de António Zambujo. É que ao ouvir, ela me soava algo tão próximo, íntimo até. E mais feliz ainda eu fiquei quando ouvi a canção “Ao sul”. Céus! Zambujo, com profunda sensibilidade, acolhe o violão solitário e canta vagarosamente a linda melodia: “Sob as águas desse rio / onde a barca dos sentidos / nunca partiu. / Lá longe / inventei o dia azul / pelo desejo de chegar ao sul…”

O que sei dizer é que ouvindo o CD eu fui tomado por muitas lembranças de Portugal, de um tempo que eu já não sabia mais que existia em minhas memórias. Porquanto eu tinha apenas vinte e seis anos de idade e conheci sozinho aquele maravilhoso país. Perambulei um bocado pelas ruas de Lisboa. Ora fuçando a Livraria Bertrand, na Rua Garret, 72, bem atrás dos Armazéns do Chiado. Ora extasiado pelo passeio nas ruas e becos da Alfama, visitando o Museu do Fado e ouvindo toda sorte de canções de Amália Rodrigues e tantos mais.

Sim! Hoje, talvez eu tenha recebido a visita do meu avô, João Antunes. Uma visita espiritual, por certo, pois afinal mal cheguei a conhecê-lo. Faleceu quando eu tinha pouco mais de dois anos de idade. Mas em algum lugar do meu DNA veio gravado o imenso amor que ele tinha por sua terra…

Por tudo isso é que nesse ensolarado sábado de frio, após a caminhada matinal pela Beira-mar, eu acabei pegando na estante um disco para ouvir enquanto me acomodava na rede do escritório. Não é que o disco, aleatoriamente escolhido, foi esse de António Zambujo, intitulado “Outro sentido”? Belíssimo, por sinal. Tem os ingredientes necessários para o deleite de todos: lindas melodias, belas interpretações e um imenso amor ao canto português!

Como não há nada mais a dizer, quero deixar aqui o meu registro de gratidão por esse Portugal que me acolheu tão lindamente. E ao meu avô João Antunes que, decerto, plantou nas terras brasileiras a marca de sua brava trajetória. Abençoado seja, vô!

https://www.youtube.com/watch?v=EdtEEOKMtFg&list=PL_5Ie4-nFson5w6qnDrwt1UbUmJEH4Nq9

Antonio_Zambujo

Vovô João

( meu avô materno, João Antunes)

Jazz: CD “Every day I have the blues”, com Joe Turner.

Dizem que aquela atmosfera carregada de fumaça de cigarro e cheiro de uísque de “segunda”, com um “blues” chorado na voz de um “crooner” e uma carinhosa mulher sussurrando em nosso ouvido, talvez só aconteça nos filmes de Hollywood. Poxa, que pena, minha gente… Porquanto sempre sonhei com isso! No fundo, acho que nasci no lugar e tempo errados.

No alto dos seus cento e “muitos” quilos, Joe Turner foi um dos mais conhecidos cantores de “blues” do Kansas. E tinha um estilo displicente de soltar a voz, como quem não está nem aí para o mundo. Para ele, cantar ou chupar cana-de-açúcar são atividades corriqueiras. Basta ouvir “Everyday I have the blues” e me entenderão. A facilidade com que ele passeia por esse “suingado blues” não está no gibi!

Big Joe foi acompanhado por Sonny Stitt (sax), o fantástico guitarrista Pee Wee Crayton, J. D. Nicholson (piano), Charles Norris (contrabaixo) e Washington Rucker na bateria.
Ah, tenho que confessar algo a vocês: adoro o jeitão moleque com que “Big Joe” canta “Lucille”. No meu imaginário, podem acreditar, é como se eu estivesse nos tradicionais “inferninhos” de Kansas City, Missouri, onde há sempre um cantor de “blues” debruçado sobre a guitarra deliciando as plateias… Por isso, então, eu afirmo: que me perdoe o estimado John Lennon. Mas, para mim, o sonho ainda não acabou…

Bendito seja o jazz!

https://www.youtube.com/watch?v=GsUuw8Gqmtc

Big Joe

Jazz: “Storyville”, o quartel-general do jazz!

Storyville era o bairro boêmio de Nova Orleans, fechado em 1918. Boa parte do cancioneiro norte-americano nasceu nas entranhas das ruas e becos daquele bairro. Era, também, o quartel-general das prostitutas. Por isso, os grandes músicos frequentaram àquela região em busca de bebida, emprego e, de quebra, algum “carinho” … O certo é que diversos músicos estabeleceram os seus “escritórios” ali. Só que com o fechamento e com a facilidade de se obter trabalho nos “riverboats” (barcas fluviais que atravessavam o rio Mississipi e seus afluentes), os músicos começaram a migrar para o Norte do país. Alguns foram para Memphis e St. Louis. Outros preferiram Kansas, Pittsburgh, Davenport e etc. Até alcançarem Chicago, que já era um grande centro e que, por conta dessa migração, se transformaria na nova capital do jazz. No entanto, apesar de toda a “malandragem” acumulada em Nova Orleans, os músicos se depararam com uma nova e complicada questão: a politicagem! É que nos “dance halls” e “bas fonds” as oportunidades eram mais voltadas para as grandes orquestras, complicando a vida de muitos artistas “solo”. Ainda assim, eles sempre davam um “jeitinho”…

storyville

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Disco: “Dreamland”, com Madeleine Peyroux.

No tempo em que eu era só criança, eu ouvia muitas histórias de fantasmas. Alguns deles eram camaradas, mas outros, minha gente, eram assustadores. E assim, com os olhos arregalados, eu fingia não sentir medo para não sofrer maiores pressões. Pois é. O fato é que, desde então, o mundo girou mais um bocado. Eu fui crescendo e conhecendo outros “fantasmas”, bem mais inquietantes. Bem mais cotidianos. Eles estão infiltrados em todos os cantos por onde andamos. Nos ônibus, nosso futuro incerto. Em nossas famílias, sonhos interrompidos.

Até que um dia eu estava caminhando pela Rua Augusta, em São Paulo, quando entrei numa dessas lojas de discos raros. Céus, não é que reencontrei os “fantasmas”… Sim! Pousavam nas prateleiras. Pousaram neste incrível disco da Madeleine Peyroux.

A “carinha” dela era até familiar, só faltava ter a violeta presa nos cabelos. Lá estava o fantasma de Billie Holiday. Atento como sempre. Como se soubesse exatamente a quem procurar e em quem se “encostar”. Se vocês não acreditam, então, ouçam Madeleine cantar “A prayer” e me entenderão. Caminhem com ela em “Walkin´after midnight”. Sejam “seu homem” em “Hey sweet man”. E se tudo isso não bastar, eu rogo a vocês: confiem em sua “La vie en rose”.

Ah, minha doce Billie, que falta você me fazia. Ao menos, até ter conhecido a sua “herdeira espiritual”. Por tudo isso, minha querida, eu beijo o seu passado e a partir de agora, creia-me, beijo também o seu presente…

https://www.youtube.com/watch?v=_nN2o6ypNNQ

peyroux

Cinema: filme “Bagdad Café”, de Percy Adlon.

PARA  ALÉM  DA  FANTASIA

Já faz um tempinho que venho escrevendo sobre cinema. Confesso a vocês, para mim esta tarefa tem sido muito prazerosa. Isto porque falar sobre cinema é falar sobre “arte” e, como se sabe, o cinema é reconhecido como a sétima arte. Aliás, com muita justiça. Afinal, foram muitos os atores e diretores que emprestaram seus talentos às filmadoras. Criaturas que buscaram por intermédio da arte “imitar a vida”, conseguindo retratá-la, recriá-la ou até subvertê-la. Pois assim é o cinema: aquela tela “encantada” que nos proporciona a grande catarse coletiva. Seja para nos transportar no imaginário das histórias e nos emocionar com a fantasia, seja para denunciar a nossa recorrente dificuldade de sonhar. O que sei dizer, minha gente, é que de uma forma ou de outra o cinema nos oferece a grande possibilidade de lavar a alma. Que maravilha!

Se uma pessoa é capaz de se modificar a partir de um bom filme ou livro fora do comum, é sinal de que ela possui sensibilidade necessária ao crescimento. E quando essa mesma criatura também é capaz de crescer a partir de um relacionamento marcante ou por conta de um acontecimento especial, então, é sinal que já foi “tocada”. Melhor ainda: deixou-se “tocar”. Ah!, este é um momento mágico. Mais do que isso, é um momento de apurado valor espiritual, porquanto raramente deixamos acontecer, o que é uma pena. Pode-se dizer que foi estabelecido nesse momento o real processo da “purificação”. Sim! É que nessas horas, por certo, nós conseguimos harmonizar nossa alma e, de alguma maneira, deixamos vazar o lado mais sensível que há nela. Quantas pessoas conhecemos nessa vida que não permitem isso? Ou, o que é pior, quantas nem sequer “atinam” para a beleza desse movimento? Muitas, lamentavelmente. Tornam-se os verdadeiros errantes!
O nosso estimado poeta, Vinícius de Moraes, orgulhosamente nos dizia que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Com certeza, meu poeta, uma vez que observamos que a grande “dificuldade” dos homens é exatamente “viver” e, com isso, se encontrar. Poucos conseguem. Desafortunadamente, a grande maioria se desencontra e apenas “sobrevive”…

Riobaldo, do Guimarães Rosa, dizia com extrema propriedade: “Viver é muito perigoso!” Pois é, companheiro… talvez seja. No entanto, assim como ele se atreveu no proibido afeto que sentia por Diadorim, nós também precisamos “ousar”. Para tanto, devemos nos “expor” ante a vida, se desejamos nos emocionar com ela. Caso contrário, cumpriremos o percurso de forma “previsível e enfadonha”, sem jamais percebermos as belezas espalhadas nos caminhos que trilhamos.

Também é verdade que a grande sabedoria humana não está registrada em nenhuma enciclopédia, visto que é algo subjetivo e requer sensibilidade. De fato, a “sabedoria” desta vida está em aprender a ler o livro, o “livro da vida”, de forma correta. E o acesso a esse invisível livro é aparentemente muito fácil. Contudo, são raras as criaturas que alcançam esta capacidade e que desfrutam desse Nirvana. De modo geral, o que se percebe é que somente as pessoas “iluminadas” ou aqueles indivíduos “ousados” são capazes de decodificar o livro da vida. Com isso, eles não só se deliciam com a mágica leitura como também nos proporcionam “mensagens especiais”. Então, fica aqui um convite: assista ao belíssimo filme “Bagdad Café” e depois me diga algo a respeito!

Memórias: “Encontros e desencontros.”

Pelo visto, nem mesmo Camus ou Kafka, os mestres do absurdo, conseguiriam imaginar soluções definitivas. E olha que eles não foram os únicos que se sentiram “estrangeiros” nesse conturbado mundo. É que no fundo, há sempre um pouco desse sentimento presente em cada um de nós. Porquanto muitos de todos nós já nos deparamos com situações profundamente “conflitantes”. Ainda que sejam repudiadas, devemos reconhecer que elas fazem parte da trajetória da gente. Afinal, quem não se sentiu perdido, injustiçado e sem perspectivas em algum momento da vida? Quem não experimentou fortes dores ao longo do percurso e, muitas vezes, provou o “pão que o diabo amassou”? Como se as razões extinguissem o bom senso e traíssem qualquer noção de humanismo. Como se o “absurdo” valesse bem mais do que tudo…

Pois é. Na verdade, é sabido que muitos pensadores já se reconheceram encurralados pelo mundo “normal”. E, provavelmente, eles devem ter se sentido “impotentes” diante dos acontecimentos… Paciência! Fazer o quê?! Bertolt Brecht, por exemplo, foi um que declarou: “Eu vivo num tempo sombrio. / A inocente palavra é um despropósito. / Uma fonte sem ruga denota insensibilidade. / Quem está rindo é porque não recebeu ainda a terrível notícia!” Será isso loucura? Será absurdo? Nem sempre, minha gente… nem sempre!

Rainer Maria Rilke foi outro que se deparou com tais emoções. Em “Cartas a um jovem poeta”, ele nos aconselhava: “…mas não se importe. Uma só coisa é necessária: a solidão, a grande solidão interior. O que é preciso é caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém – é a isto que é preciso chegar”. E agora?! Pois é. Nós até podemos acalentar esses conselhos, contudo, convenhamos, torna-se extremamente complicado pôr em prática, não acham?!

O que sei dizer é que essas utopias poderão encontrar – aqui ou acolá – alguns seguidores, pois há todo tipo de gente nesse mundão de Deus. Entretanto, devo declarar: apesar de tudo, eu sempre preferi resolver as pendências por meio do “contato humano”, à medida que somente ele é capaz de nos proporcionar a verdadeira troca. Troca essa que “colhemos” ao nos “relacionar” com o outro. Evidentemente, muitas vezes isso é algo bem “complicado” e, por vezes, parece mesmo inatingível. Ainda assim, eu acredito que o sentido maior da nossa existência esteja na “relação humana”. Lá, isso sim!

Seja lá como for, minha gente, vendo isso ou escutando aquilo, no fim das contas eu acabo concordando com a excelente dramaturga, Maria Adelaide Amaral, quando diz: “… mas vou continuar de braços abertos porque, apesar da dor, do desencontro que tenho experimentado nas minhas relações afetivas, continuo a acreditar que o amor é a única coisa capaz de me salvar!”

encontros e desencontros

Foto: Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.

 

Disco: CD “A Donny Hathaway Collection”, com Donny Hathaway.

Há quem assegure que os sons que existem na natureza representam a melhor “obra” do Senhor. E que “ele” criou o mundo com uma única intenção: que as criaturas pudessem se extasiar com os sons e, com isso, amassem uns aos outros. Olha, pode bem ser verdade. O que sei dizer é que existem algumas melodias esparramadas pelo mundo que atestam essa ideia, lá, isso sim! Basta ouvir, por exemplo, as lindas canções de Donny Hathaway, como “A song for you”. Ah, certamente vocês concordarão comigo: é um incrível mergulho na alma!

No entanto, meus amigos, a vida de Donny foi muito dura. Impiedosa, até. Nascido em Chicago e criado em St. Louis, pode-se dizer que Hathaway possuía uma daquelas almas “irreversivelmente conflitadas”. E a fama surgiu por conta da sofrida voz, à medida que ele conseguia expressar a marca de sua inseparável dor nos inúmeros “gospels” que aprendeu na infância. Como poucos cantores, Donny Hathaway legitimou o sofrimento nos cantos e acordes de belas melodias. Talvez por isso, irônica e cruelmente, ele tenha se suicidado em 1979, aos 33 anos de idade. Por sinal, com a mesma idade “do mestre” que ele tão bem soube homenagear em suas inesquecíveis canções…

https://www.youtube.com/watch?v=HeHiio1sTTI&feature=youtu.be

Donny Hathaway

Disco: CD “So goes love”, com Charles Brown

Meus amigos, muitas vezes esse tal de “preconceito” complica por demais a nossa vida. Sim! Eu explico. É que o famigerado “mundo globalizado” vem nos cobrando posturas e comportamentos para todo tipo de situação. Até aí, tudo bem. Antigamente, por exemplo, eu podia tratar alguns amigos negros carinhosamente por “negão”, sem que isso representasse ofensa ou desrespeito. Da mesma forma como eles me respondiam pelo apelido de “pau-de-arara” ou “paraíba”, mesmo eu sendo cearense. Contudo, isso nunca me feriu, porquanto eu tenho profundo orgulho de ser nordestino! Então, estamos combinados, não é verdade?!
Porém, o que eu queria dizer é que a voz que sai da garganta desse “negão” não está no “script”. É impressionante, minha gente! E, cá entre nós: com certeza o nosso Jorge Ben o chamaria de “Charles, Anjo 45”. Não por conta da idade, creio. Mas que é o “rei da malandragem”, lá isso é! O “suingue” que solta na voz e no piano é puríssimo. Daí, ele virou titular absoluto do meu time. Como dizia aquele vitorioso técnico de futebol: agora, é ele e mais dez! Basta ouvir a primeira canção do álbum “So goes love”. Intitula-se “New Orleans Blues” e já nos primeiros acordes sentimos no ar uma baita sedução. Charles Brown canta com uma tremenda intimidade e passeia na melodia feito aquele velho malandro que sabe o que quer. Pura magia!
Até que chegou a vez de “Sometimes I feel like a motherless child”. Céus! Confesso a vocês: tive até vontade de adotar o “desamparado órfão”, tal a emoção sentida. Afinal de contas, eu sempre tive o coração mole mesmo… Fazer o quê?!

https://www.youtube.com/watch?v=Cczb3fJ622Y

charles Brown

Literatura: Sim! Os “feiticeiros” existem!

Que eu saiba, cada criatura carrega no seu imaginário alguns mitos e heróis. E mesmo que a gente não queira confessar, no fundo, o “encantamento” por determinadas pessoas ou causas ultrapassa os limites da simples admiração.

É verdade, meus amigos, desde muito jovem eu me senti “abduzido” em diversos momentos. Algumas vezes, foram “causas” que me encantaram e eu as defendi com unhas e dentes. Foi o caso dos movimentos estudantis, pois ainda muito jovem eu me vi abraçando essa bandeira. E daquele modo, eu pregava por liberdade e participação nos destinos da educação. O mundo inteiro clamava por uma educação de qualidade…

Pouco tempo depois, eu novamente me vi enredado pelo “fascínio”, só que dessa vez era o cinema. Aquela telinha mágica que é capaz de nos transportar por mares nunca dantes navegados. Meu Deus, o que era aquilo? Eu parecia muito mais um daqueles ardorosos membros de fã-clubes que cultuam seus ícones. Eu e meus amigos aficionados íamos assistir diversas vezes aos filmes “cult” de Jean-Luc Godard, como o “Acossado”, na esperança de aprender a “soletrar o mundo”…

Nessa mesma época, eu também descobri o gosto pela leitura e o prazer que ela nos oferece. E durante as descobertas, eu encontrei os meus gurus na literatura: Rubem Fonseca, Vargas Llosa, Camus e tantos mais. Ah, que encantamento! Quanta sedução pode haver em um bom texto!

Rubem Fonseca, por exemplo, escreve histórias surpreendentes. Sedutoras. Por isso, é um verdadeiro mestre para mim. Aliás, foi com ele que eu comecei a entender o que é o bom uso das palavras em favor de uma ideia. Rubem mais parece um artesão, pois consegue construir com imensa paciência e dedicação o enredo de suas comoventes histórias. Seus livros estão aí para o deleite de todos. E para não cometer nenhuma injustiça ou esquecimento, gostaria de lembrar aqui alguns dos que me tocaram profundamente a alma: “O cobrador”, “Feliz Ano Novo”, “Lúcia MacCartney”, “Histórias de amor”, “A grande arte”, entre outros.

Pois é. Já houve quem afirmasse que uma arte só tem total legitimidade quando é capaz de “ferir mortalmente” as percepções alheias, deixando registros permanentes na alma de quem permitiu. Céus… Que verdade! E são poucos os que possuem tal virtude. Afinal, eles são os verdadeiros “feiticeiros”.

Se pensarmos bem, essa é uma das grandes razões porque vale a pena viver!

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