O GRANDE ‘SENHOR’ DO MEU TEMPO

Nem seria necessário evocar os versos de Caetano: “És um senhor tão bonito / Quanto a cara do meu filho / Tempo, tempo, tempo, tempo / Vou te fazer um pedido / Tempo, tempo, tempo, tempo / Compositor de destinos / Tambor de todos os ritmos / Tempo, tempo, tempo, tempo / Entro num acordo contigo / Tempo, tempo, tempo, tempo…”

Ah, minha gente, ao lembrar desses versos, eu percebo o quanto eles desencadeiam em mim o desejo de celebrar os 74 anos de vida!

E agora, que eu estou bem próximo dessa data, eu fico a pensar sobre o que fiz e o que deixei de fazer nesse longo percurso. Para início de conversa, é bom que se diga, pouco mais de 1% da população masculina do Estado do Ceará atinge os setenta anos de idade. Convenhamos: em pleno século 21, é uma triste realidade! Apesar disso, não posso negar a imensa alegria que sinto por ter chegado até aqui. Sem dúvida, é um privilégio que a vida me concedeu, ainda que eu lamente a má sorte de outros conterrâneos.

Na verdade, foram muitos os caminhos que o destino me ofereceu. Como consequência, inúmeros ‘atalhos’ que eu tive que desvendar. Agora, eu reconheço que não é uma tarefa fácil escolher os caminhos para trilhar. Lá, isso não! Isto porque a chance de cometermos erros de avaliação, decerto, é assustadora. Muitas vezes, é algo que nos paralisa…

Quando eu era menino, lembro que diversas vezes eu me perguntei: qual será o meu papel nesse mundão de Deus? E qual será o seu, amigo leitor? Céus… pelo visto, todos nós temos que pagar o irremediável pedágio para descobrir. E mais ainda: de um jeito ou de outro, nós temos que seguir em frente. Com ou sem medo. Com ou sem angústia. Nada disso impede, à medida que a própria vida vai nos dando coragem. E ao nos empurrar pelos becos e esquinas do mundo, ela acaba nos dando a chance de aprender a ‘soletrar o mundo’ de forma adequada.

“Ouve bem o que eu te digo / Tempo, tempo, tempo, tempo / Peço-te o prazer legítimo / E o movimento preciso / Tempo, tempo, tempo, tempo / Quando o tempo for propício / Tempo, tempo, tempo, tempo / De modo que o meu espírito / Ganhe um brilho definido / Tempo, tempo, tempo, tempo / E eu espalhe benefícios…”

O que eu posso dizer é que a vida tem me propiciado descobertas extraordinárias, dessas que nos dão a certeza de que vale a pena ‘pelejar’. Com sorte, nós descobrimos os parceiros certos para cada percurso e com eles firmamos interessantes pactos. Ah! Eis aí a grande beleza dessa vida. E no meu caso, posso assegurar, foram os amigos, a esposa e o filho que atestaram essa minha percepção. Sem eles, confesso: pouco coisa eu teria para comemorar nesse marco divisório da velhice…

“Ainda assim acredito / Ser possível reunirmo-nos / Tempo, tempo, tempo, tempo / Num outro nível de vínculo / Tempo, tempo, tempo, tempo / Portanto peço-te aquilo / E te ofereço elogios / Tempo, tempo, tempo, tempo / Nas rimas do meu estilo…”

Caetano parece compreender a grandeza dessa vida e do que ela é capaz de nos ofertar. Para muitos, o importante é ser bem-sucedido. Para outros, o que mais importa é a extasiante ‘troca’ que as relações permitem, saciando os corações. E não considero aqui a eterna dicotomia entre o bem e o mal ou a vida e morte. Não! Até porque, nesse momento da vida, eu não sei dizer o que nos cura, meus amigos. Tampouco o que nos mata. No entanto, ao longo desses 70 anos, o que venho percebendo é que há muitas outras riquezas interessantes. É tão somente uma questão de escolha, ainda que ela seja individual e particular. Sempre. Eu fiz as minhas e me sinto feliz com elas. E vocês?!

(Imagem: o velho e majestoso “Baobá” africano)

Publicado por

Carlos Holbein

Professor de química por formação ou "sina" e escritor por "vocação" ou insistência...