Achados & Perdidos

Ontem, eu e minha esposa fomos almoçar em um restaurante com o nosso filho. Lá pelas tantas, eu comecei a desenvolver um argumento, empunhando-o como se fosse uma bandeira a ser defendida. Dizia eu para o Gabriel que não somente o planeta está se exaurindo. Desafortunadamente, devemos reconhecer, a humanidade também está na UTI!

Contudo, sem dar muita importância à minha fala, talvez por conta da pouca idade, eu percebi que tudo o que eu dizia era enfadonho para ele. Ainda assim, resolvi insistir. Afinal, a nossa “conversa” tem que prosseguir, não é verdade?!

Por conta disso, eu comecei argumentando que ao se observar a história, pode-se perceber que o homem tem sido capaz de construir um sem-número de coisas boas a partir de suas invenções. Porém, também é verdade que ele tem ‘extraviado’ ao longo do caminho significativos ‘patrimônios’ que já havia acumulado. E eu não me refiro aqui aos patrimônios materiais. Não, amigos! O mais doloroso é constatar que as maiores ‘perdas’ têm sido os valores éticos, morais e o respeito pelos bens imateriais.

Ainda assim, por favor, eu rogo a todos que não reduzam essas ideias apenas aos aspectos ‘saudosistas’. Até porque não sou dessas criaturas que costumeiramente iniciam suas frases com o famigerado “olha, no meu tempo…”. Não! Minha preocupação reside, muito mais, nas visíveis ‘atrofias’ que percebemos na formação do caráter e da estrutura emocional desses jovens. Pois é. Assusta-me o comportamento deles, indiferentes a toda e qualquer forma de tradição, legado ou valores constituídos.

Decerto, eu também já fui jovem. Por conseguinte, creiam-me, já empunhei as bandeiras da contestação. E participei de incontáveis protestos contra toda sorte de causas e movimentos. Até aí, estamos empatados. No entanto, ainda que eu abraçasse febrilmente uma dada causa, seguramente, havia um componente que nos diferenciava dos atuais movimentos contestatórios: não desprezávamos os valores adquiridos. Isso porque, convenhamos, nós precisávamos ‘deles’ para dar consistência e solidez aos nossos argumentos.

Sendo assim, oxalá eles cresçam e possam retomar àquilo que deixaram de lado durante o percurso. Se isso acontecer, melhor, já que ainda poderemos dar boas risadas pelos enganos e atropelos cometidos…

Na dúvida, seria bom que eles procurassem o setor de achados e perdidos. Afinal, é lá que poderão encontrar algumas preciosidades. Com sorte, quem sabe, poderão até mesmo resgatar antigos ‘afetos’ perdidos?!

Publicado por

Carlos Holbein

Professor de química por formação ou "sina" e escritor por "vocação" ou insistência...