É bem verdade que a gente não foi criado para ‘perder’ os nossos entes mais queridos. Não! Isso é algo que somente as criaturas ‘superiores’ conseguem alcançar. E eu lamento não ter atingido esse patamar de compreensão e espiritualidade. Provavelmente, ainda terei que ‘remar mais um bocado’ para aperfeiçoar a minha condição. E isso leva tempo, algo que não disponho muito. Por vezes, não se configura em uma só vida… E aí, fazer o quê?!
Do mesmo modo, eu ouvi, ao longo da vida, que os pais nunca poderiam enterrar os seus filhos, porquanto fere a ‘ordem natural’. Tudo bem. Eu consigo entender e aceitar tal pensamento. No entanto, haverá alguém que indagará: e por que o contrário é aceitável? Por que os filhos devem ser mais fortes para aceitarem a perda dos pais?!
Nessa hora, eu lembro a canção de Fernando Mendes, que diz: “Não vejo mais você faz tanto tempo / Que vontade que eu sinto / De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços / É verdade, eu não minto. / …Agora / Que faço eu da vida sem você? / Você não me ensinou a te esquecer…”
Pois é. O que eu sei dizer é que desde pequeno a gente aprende que os deuses olímpicos são divindades gregas que residem no Monte Olimpo. Melhor ainda: lá, no Monte Olimpo, os deuses gregos consomem ambrosia e néctar. Céus! Eu ia adorar viver ali, cercado de mimos, poderes e, de quebra, a ambrosia que tanto amo… Porém, vai ver que isso é proibido para os simples mortais como eu. Inda por cima, cearense cabra da peste, acostumado a rapadura e não as iguarias como aquelas. Paciência!
No fundo, o que importa nessa vida é a gente crescer. Por dentro e por fora. Com isso, poderemos desenvolver outras capacidades para dar conta de algumas demandas difíceis. Como é o caso da orfandade, cuja dificuldade presente em quase todos é a aceitar a dor como parte inerente desse momento.
Quanto a esse fato, reconheço que até hoje eu não aceitei a partida dos meus pais. Em especial da minha mãe, que viveu bem menos que ele. Por certo, os juízes de plantão dirão que eu terei que superar esse ‘trauma’ e me tornar um ‘sujeito normal’. Uma criatura bem resolvida. Será? Então, eu rogo a algum amigo leitor que me ensine o caminho das pedras. Para que eu possa redimir os meus enganos e alcançar um patamar mais confortável nessa vida.
Contudo, enquanto isso não acontece, o jeito é pedir ajuda a Dioniso. Sim, afinal, ele era o deus grego do vinho, das festas e da alegria. E por ser relacionado com a alegria humana, os gregos afirmavam que ele tinha sido o inventor do vinho e aquele que realizou o desejo do rei Midas, permitindo que ele transformasse tudo que tocava em ouro. O diabo é que eu não desenvolvi, nem de longe, esse talento de Dioniso. Tampouco tive a sorte grande de receber dele um ‘tracinho’ da capacidade ofertada a Midas. Muito ao contrário, uma vez que o pouquíssimo ouro que recebi como paga pelos meus trabalhos, com o tempo, acabaram sumindo ou virando pó. Ou indo parar na Receita Federal… Putz!
