BOM DE BRIGA

Todas as vezes que íamos jogar bola na ladeira da Zamenhof, sempre havia o risco de alguma briga. Isto porque, como todos os jogadores tinham entre 13 e 16 anos de idade, já viu, né? Os tais ‘hormônios masculinos’ apareciam em qualquer disputa de bola. Por conta disso, mais da metade dos jogos não terminavam bem, ou seja, o ‘pau comia’ antes da partida acabar.

Como eu era bem franzino, para não dizer ‘magrelo’, procurava não entrar em disputa ‘dividida’, daquelas cujo tornozelo quase sempre arca com as consequências. Mas, é o tal negócio: não adianta se esconder, pois quando chega o dia certo, ah, você pode jogar uma moeda para o alto e dizer que ao cair no chão dará cara ou coroa. Porém, não é que a maldita moeda é capaz de cair em pé?!

O que eu posso dizer a vocês é que o Durval já andava na minha ‘cola’ a algum tempo, louco para jogar contra o meu time e me acertar uma cacetada daquelas. E foi o que aconteceu naquela tarde de sábado. O jogo mal começara e logo na primeira disputa de bola Durval acertou um pontapé na batata da minha perna. Eu caí no chão me contorcendo de dor e um grande calombo se formou na hora. Ele, sorrindo cinicamente, apenas levantou o polegar e seguiu em frente.

Um detalhe importante é que quase todos da rua sabiam que eu tinha um irmão mais velho, bastante forte. Assim, para minha sorte, esse ‘detalhe’ me blindou por longo período das confusões na Zamenhof. Só que Durval era novo na rua e não sabia que eu tinha irmão, muito menos que fosse mais forte do que eu. Daí, como eu marquei o gol da vitória no último minuto da partida, além dos tapinha nas costas vindo dos meus companheiros da equipe, recebi também um soco na barriga vindo do Durval. Aí, a confusão se formou. E todo mundo abriu espaço para a nossa briga acontecer. Durval tinha ‘sangue nos olhos’ e queria me ver morto ou quase morto. Já eu, confesso, nunca havia brigado com ninguém e fiquei sem saber como reagir ao soco recebido.

Foi preciso tomar o segundo pontapé na coxa para perceber que não poderia evitar mais a briga. Ainda ganhei alguns segundos girando de um lado para o outro, tentando evitar o conflito. Até que o Durval pulou em cima de mim, buscando me derrubar. Só que ele errou a distância do pulo e bateu com a boca no meu joelho. Caiu estatelado no chão, com o olhar perdido. Imediatamente, começou a sangrar e rapaziada gritava para eu bater firme, já que ele estava zonzo. Mesmo não querendo fazer isso, pois nunca batera em ninguém na vida, senti muita raiva e uma vontade enorme de dar o troco. Foi o que eu fiz quando ele se levantou: devolvi o soco igual na barriga dele. Durval, que era maior do que eu e bem mais forte, nesse momento, parecia assustado com a minha reação. Então, virou-se de costas e saiu correndo para a casa. A turma do futebol comemorou a surra com gritos e assobios. Levantaram-me nos ombros, como um herói, e saudaram o novo ‘rei da briga’ da velha Zamenhof…

Por um certo tempo, Durval evitou se encontrar comigo na rua. Até que um dia ele me perguntou: “Chau, como você deu aquele golpe com o joelho na minha boca?” E eu, sem pestanejar, menti com convicção: “aprendi nas aulas de jiu-jitsu da academia.” Foi quando ele consentiu: “logo vi que você dominava as artes marciais!”