Viajar talvez seja um dos mais belos prazeres dessa vida. E muito cedo eu identifiquei esse desejo incontido de ver além das minhas janelas. É que a gente aprende um bocado com os outros, não é verdade? Se tivermos paciência, interesse e curiosidade, aí, então, a coisa vai longe…
Lembro até que esse tema surgiu em uma sessão de terapia, com o saudoso Alexandre Kathalian, um ‘mago’ no trato das emoções. Na época, eu dizia para ele que gostaria muito de me sentir um ‘cidadão do mundo’, desses que que perambulam pelos quatro cantos em busca de aventuras e aprendizados. Desses que não se sentem ‘estrangeiros’ em nenhuma parte do mundo.
Sim! De fato, eu demorei algum tempo para perceber que Mário Quintana tinha razão. Porquanto a sentença dele era procedente: “…eu queria ter nascido numa dessas casas de meia-água / com o telhado descendo logo após as fachadas / só de porta e janela… Porém nasci em um solar de leões. / Não pude ser um menino da rua… / Aliás, a casa me assustava mais do que o mundo, lá fora. / A casa era maior do que o mundo! / E até hoje – mesmo depois que destruíram a casa grande – / até hoje eu vivo explorando os seus esconderijos…”
Talvez, por conta disso, o destino quis me presentear. Oferecendo-me a companheira ideal para os desafios que estariam à nossa frente. Sendo assim, caímos na ‘estrada’ e fizemos um pacto de exploração para além dos nossos muros. Desse modo, aceitamos que a ‘riqueza’ dessa vida não se traduz pelo vil metal. Assim, tudo ficou mais acessível. Não temos carros novos, nem apego material. Preferimos acumular milhas aéreas (e terrestres!) ao invés de roupas caras ou objetos de grife. Não que sejamos contra essas coisas. Mas é apenas uma questão de prioridades. Cada um com a sua, né?!
Esse ano, nós queríamos explorar dois países: França e Itália, com distintas intenções. Na França, elegemos Paris e o Vale do Loire. Afinal de contas, como disse Rick Blaine, personagem interpretado por Humphrey Bogart, em Casablanca: “…sempre haverá Paris!” E na Itália, eram duas as regiões de interesse: a Toscana e a Costa Amafiltana.
Começando pelo Vale do Loire, o que se sente é uma verdadeira viagem no ‘túnel do tempo’, uma vez que o século 21 deles se mostra mais interessado nos séculos X ao XVI. Por isso, eles mantêm uma vida calma e saudável, indiferentes aos turistas que atropelam os caminhos dos camponeses da região. Chega a dar pena ver a rotina daquela gente tão aviltada pelos ônibus de turistas… fazer o quê?!
No entanto, foi na Itália que tivemos as melhores experiências. A começar pelo passeio nos vales e montanhas da Toscana. Que tiro foi aquele, minha gente?! Coisa linda. Em cada subida e descida nas estradas éramos contemplados com paisagens deslumbrantes. Merecedoras de mais filmes maravilhosos criando ambientes para os dramas tão bem elaborados pelos cineastas. Um brinde a Toscana e ao cinema!
Demos início a nossa jornada começando por Montalcino, um vilarejo imerso na paisagem deslumbrante do Val d’Orcia e conhecido em todo o mundo pela sua produção do precioso vinho “Brunello”. Dali, fomos para Pienza que é a capital do queijo “Pecorino”, uma verdadeiro tesouro gastronômico. E terminamos a excursão ao Val d’Orsia conhecendo Montepulciano, que fica no topo de uma colina. É uma cidade medieval linda de se ver e apreciar, com fortalezas e casas de pedras tão bem conservadas quanto os vinhos.
Aliás, após a degustação de queijos, pães e vinhos na sede da vinícula “Contucci”, onde o inesquecível almoço foi feito pela proprietária, seguimos rumo a Florença, já que no dia seguinte iríamos conhecer o incrível Lago de Garda. Um verdadeiro colírio para os nossos ávidos olhos…
Embarcados no trem de alta velocidade (de 200 a 300 km/h), fomos para o sul da Itália em direção a Nápoles, e dali para Sorrento. Os nossos quatro últimos dias foram de muita movimentação pela Costa Amalfitana. Desde Conca dei Marini, passando por Positano, San Cosma, Amalfi e Ravello. Cada cantinho desses tem a sua beleza própria.
Ao final de toda essa bem planejada viagem, no fundo, eu sentia que alguma coisa ainda estava faltando. E foi preciso eu chegar em casa, exausto pela longa viagem de volta, de quase vinte e quatro horas com as conexões. O que sei dizer é que eu estava faminto mas pouca coisa havia de comida em casa. Restou-me apenas os biscoitos envelhecidos e um xícara de café. Humm… aí, sim, eu me dei conta da falta que o nosso cafezinho brasileiro faz. Principalmente, do aroma que emana. Ah! Inigualável aroma!!

Castelo de Chambord, em Blois – França.

Jardins do Château de Villandry.

Fortaleza de Montalcino.

Lago de Garda, perto de Verona.

Val d’Orsia – Toscana.