DESENHOS DE GIZ

Outro dia nós estávamos conversando com o nosso filho sobre as perspectivas que se abriram para ele após o término da universidade. Como resposta, Gabriel fez uma longa exposição de motivos, elencando os projetos que tem em mente para realizar. Ouvimos com interesse e atenção. Por conta disso, eu e a mãe dele ponderamos sobre os prós e contras presentes nos argumentos explicitados por ele. E manifestamos entusiasmo com a visão de mundo, embutida em cada etapa apontada, à medida que percebíamos que a narrativa era plena de propósitos, planos e objetivos. No entanto, confesso a vocês, eu sentia falta de alguns aspectos ‘humanos’, tais como medos, sonhos, fantasias e dúvidas. Isto porque, convenhamos, estando ele com 21 anos de idade e sem ainda ter experimentado as ‘dores do amor’, no fundo, tudo aquilo me soava bonito, porém incompleto. É que para nós, mais velhos e experimentados, o discurso dele não contemplava a presença dos conflitos inerentes à vida. Foi quando eu lembrei da bela melodia de João Bosco e Abel Silva, intitulada “Desenho de Giz”:

“…Aí, diz o meu coração

Que prazer tem bater se ela não vai ouvir

Aí, minha boca me diz

Que prazer tem sorrir

Se ela não me sorrir também

Quem pode querer ser feliz

Se não for por um bem de amor…”

Pois é, minha gente. Ao mesmo tempo, durante a argumentação, eu tentei frear alguns pensamentos meus para permitir que Gabriel atravesse esse percurso do seu jeito e no seu tempo. Afinal, cada um de nós tem lá as heranças e legados, e algumas missões a cumprir, não é verdade? Então, quem sou eu para ditar comportamentos?! O melhor é deixar o Gabriel por sua ‘conta e risco’, atento ao caminhar dele, mas, à distância, sem grandes interferências. O diabo é que nós, pais e mães, temos a irrefreável tendência de querer ‘ajustar’ os passos dos filhos. Sim! Isso pode até ser feito com a melhor das intenções, com muito amor, todavia, devemos reconhecer, nós corremos o risco de pagar um alto preço pela intromissão. Pior ainda: eles é que acabam pagando por isso!

“Eu sei que vocês vão dizer

A questão é querer, desejar, decidir

Aí, diz o meu coração

Que prazer tem bater se ela não vai ouvir

Cantar, mas me digam pra quê

E o que vou sonhar

Só querendo escapar à dor…”

“E agora, José?”, lembraria o nosso poeta Drummond. O que fazer? Sei não. Eu acredito que o mais indicado, talvez, seja colocar na conta do ‘destino’ os rumos que ele irá tomar. E imbuído de confiança, deixar que o talento, a obstinação e a mão de Deus acompanhem os passos dele. Afinal, ele tem tudo para ser feliz. E em caso de dúvida, basta lembrar a belíssima canção: “Quem pode querer ser feliz / Se não for por amor?”

Publicado por

Carlos Holbein

Professor de química por formação ou "sina" e escritor por "vocação" ou insistência...