Lá se vão quase setenta e três anos que pelejo nessa vida. E bem cedo, ainda no meu velho e querido Ceará, eu dei início a incessante busca por uma vida melhor. Melhor no sentido afetivo e espiritual, pois esses foram os grandes desafios que aceitei encarar. Quantos aos outros, bem, esses já não estão sob o meu arbítrio, como saúde, segurança e prosperidade.
Também é verdade que eu demorei muito tempo para identificar o que de fato me cabia nesse latifúndio, uma vez que herdamos um sem-número de demandas internas. Algo que necessitou até mesmo de ajuda externa, obtidas às duras penas nas sessões de terapia. Ufa! Foi um longo e penoso trajeto, sim, vivido dia a dia, sem tréguas ou intervalos.
É bem verdade que isso não foi exclusividade minha, uma vez que tantas outras criaturas passaram por situações semelhantes ou até piores. Tudo bem. Sei disso. No entanto, cá entre nós, isso não redime o ‘processo’ e nem cria desvios que aliviam dores. Então, o que me coube foi encarar a vida da melhor maneira possível. Aceitando os infortúnios como ‘acidentes’ e me alimentando com os pequenos progressos alcançados em cada etapa.
Lembro até que ao completar dez anos de idade, portanto, ainda criança, eu me perguntei como seria a minha vida quando tivesse 50 anos. Porquanto era algo tão distante que mais parecia uma abordagem ficcional. Contudo, esse dia chegou. Rapidinho. Mas não me trouxe as respostas das dúvidas que se acumularam ao longo do caminho. Apenas renovaram as questões pendentes. E o pior: acrescentaram novas demandas…
Pois é. Hoje eu sei que esse exercício emocional é o cerne da existência humana. E que, em última análise, ele nunca terá um fim. Mais do que isso: se por um lado os infortúnios da vida nos deprimem, por outro, eles nos ofertam profundas reflexões. Com isso, quem sabe possamos nos aproximar de algumas questões que há tempo nos afligem? São perguntas que aguardam respostas e que, de alguma maneira, um dia precisaremos responder. Aliás, foi Nietzsche que, diante do absurdo da vida e do mundo, escreveu: “o absurdo de uma coisa não é uma razão contra a sua existência. É mais uma condição!”
É sabido que na longa história do homem, muitas injustiças aconteceram. Ainda que elas sejam encaradas com repúdio, não cessarão aí. Seguramente, muitas outras virão. Paciência! Desse modo, é preciso é aprender como drená-las. E assim, ao conquistar tal sabedoria, poderemos dar prosseguimento às belezas da vida. Então, quem sabe se não é essa a nossa seleção natural? Isto porque, sejamos justos, somente alguns de nós terão êxito e saberão colher o ‘néctar’ que há na vida. Já os outros, ah!, os outros irão ‘derrapar’ e pagarão um alto preço, onde a moeda contábil raramente é o dinheiro!
Enfim, sigamos a vida…
