Lembro muito bem quando conheci Renato Alvim. Eu era ‘calouro’ no magistério e ele já dava aulas a alguns anos. Além disso, Renato esbanjava talento e isso impressionava a todos.
Lembro até que por ser o meu primeiro ano como professor, faltava-me desenvoltura, autoconfiança e uma pitada de ‘malandragem’ em sala de aula. É o tal negócio: eu podia ter competência e boa vontade, vá lá, mas me faltava aquele ‘algo mais’ que somente a experiência desenvolve. Paciência… Fazer o quê?!
O mais interessante, contudo, é que o universo se encarregou de me aproximar de Renato. E assim, acabou criando uma sólida e profunda amizade. Sim! Nós fomos amigos e companheiros por mais de duas décadas e, durante esse percurso, eu pude conhecer outros atributos da personalidade dele.
Para início de conversa, é bom que se diga, Renato era uma criatura extraordinária, com múltiplos talentos. Na Matemática, ele era unanimidade: talento puro! Mas a coisa não parava aí, já que Renato também era um exímio violonista. Aliás, tenho imensas saudades dos encontros musicais conduzidos pelo violão de Renato. Sorte a nossa, isso sim, pois ficávamos noites e mais noites embevecidos pela apurada técnica e elegância que ele nos brindava.
Além disso, não podemos esquecer, Rento Alvim tinha um senso de humor espetacular. E como ele sabia disso, abusava dos improvisos em qualquer ambiente que estivesse. Como consequência, todos paravam para ouvir seus comentários. E, não raro, externavam admiração ao carisma que ele irradiava.
Após alguns anos de convívio, estimulado por ele, eu posso dizer que consegui ‘crescer’ como professor e adquiri um maior traquejo em sala de aula. Desse modo, eu passei a receber os primeiros reconhecimentos dos colegas professores. Por sinal, naquela época era costume dizer: “se a pessoa tiver realmente vocação e talento, bastam uns poucos anos no magistério e a carreira seguirá de vento em popa!”
Pouco tempo depois, eu e Renato passamos a alternar as caronas para o trabalho, uma vez que as unidades do cursinho, Meier e Madureira, eram bem distantes. Então, para economizar gasolina, combinávamos a ida ao trabalho ora no meu fusca, ora no Chevette dele. O diabo é nos dias dele eu era obrigado a aceitar a escolha do percurso, de acordo com o humor e a sensibilidade presentes no Renato. Porquanto ele sempre escolhia trajetos inusitados, normalmente, bem mais longos e demorados.
No início, eu reclamava um bocado com ele: “porra, Renato, vamos gastar meia hora a mais para chegarmos ao cursinho!” E ele, com aquela serenidade quase bovina, respondia com um sorriso nos lábios: “calma, Carlos, é que esse caminho é muito mais bonito, não acha?!” O pior é que ele tinha razão. Invariavelmente!
A vida seguiu o rumo que pode e, por sorte, ainda me presenteou com alguns anos de convívio com essa especial criatura. Depois, eu mudei de cidade e vim morar em Florianópolis. Aqui, eu constitui família e sentei praça. Quanto ao Renato, soube que ele trocou o magistério pela carreira de músico. Ah, meus amigos, eu acredito que ele tenha sido mais feliz enquanto viveu.
Em minhas lembranças, Renato sempre ocupará um lugar de destaque. Afinal, foi com ele que eu aprendi a desvendar alguns caminhos… Abençoado seja, Renato Alvim!
