Que Canelau sempre foi um sujeito diferente, lá, isso todo muito conhecia. Contudo, o que não se sabia, em detalhes, era do encontro mais recente que ele tivera com o Capiroto. Segundo Canelau, o fatídico encontro ocorreu na metade desse ano. Ainda segundo Canelau, ele já tinha sido procurado reiteradas vezes do decorrer da vida. Mas, do jeito que era distraído ou desapegado de certos temores, no fundo, nunca deu bola para as ‘chamadas’ de Capiroto. Ora surgia um convite para um ‘encontro’ no trânsito da autoestrada que ligava a Barra da Tijuca ao Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Ora surgia um aceno de ‘boas-vindas’ em pleno banho de mar na Praia de Copacabana, tendo apenas 14 anos de idade. O certo é que tudo transcorrera sem que Canelau percebesse as manobras traiçoeiras que Capiroto empreendia… Melhor assim!
De um jeito ou de outro, Canelau tocava a sua vidinha com entusiasmo e satisfação. Apesar de viver em uma numerosa família de classe média baixa, o que mais surpreendia a todos era a visão de mundo otimista que Canelau guardava. O que se sabe é que ele buscava encontrar o prazer das coisas em todas as empreitadas. Quase sempre conseguia.
O fato é que a vida foi seguindo o seu rumo e apresentando à Canelau as suas facetas para escolher. Também é verdade que não era fácil viver em uma família numerosa. Afinal, as atenções sobre a vida exigiam uma disputada divisão. Por vezes, até mesmo desfavorável ou injusta. Fazer o quê?!
Os caminhos que se apontaram para Canelau nem sempre foram promissores. Por isso mesmo, havia sempre a cota de esforço e sacrifício a ser completada por ele. E, por mais que não reclamasse, algumas vezes o ‘sarrafo’ era alto demais para os seus pulos. Vem daí a capacidade de adaptação e resiliência. Adquiridas ou desenvolvidas.
Bateu muita cabeça, aqui e acolá, a procura dos seus pares na vida. Por sorte, encontrou um punhado deles no caminho e, assim, acumulou fôlego suficiente para criar independência e autoestima. Por sinal, são coisas difíceis de garimpar na vida.
Sim… eu estava falando do mais recente encontro de Canelau e Capiroto. Mas, antes disso, é preciso dizer que após muita poeira na estrada, Canelau, enfim, descobriu que a melhor família do mundo é aquela que se consegue constituir. Uma família formada pelo matrimônio entre a vida e o desejo. Entre a luta e a realização. Ah, meus amigos, ao lado da companheira escolhida e do filho desejado, tudo fica mais fácil…
Por conta disso, quando Capiroto apresentou o laudo da doença a Canelau, talvez tenha pensado: “Agora, não tem por onde fugir. Dessa vez eu te pego!” Pois é, minha gente. Munido de esperanças e confiança, Canelau apenas retrucou: “Ainda não, seu moço! Ainda tenho muito a contar…”
( O “Capiroto”, na visão de minha querida mãe, Jarina Menezes)
