OS CAMINHOS DO CORAÇÃO

Dizem que o melhor aliado do homem é a memória, porquanto é o único patrimônio verdadeiramente intransferível. Tudo o mais é efêmero e não redime o coração de quem quer que seja. Concordo. Plenamente!

Muitas vezes, observa-se que o destino de uma criatura sofre bruscas mudanças e subverte os caminhos do coração. Ainda que seja injusto, convenhamos, são incontáveis os casos em que a ‘roda da vida’ manipulou os acontecimentos. Seja atropelando sentimentos, seja cerceando talentos ou mesmo modificando o rumo de algumas histórias. Vimos isso, por exemplo, no brilhante filme de Claude Lelouch, Bolero (Les uns et les autres), em que saga de quatro gerações é dramaticamente interrompida. O título do filme, dado aqui no Brasil, bem que apontava: Retratos da vida. Sim, meus amigos, são os impiedosos fragmentos do cotidiano. E o que se percebe é que o destino continua, teimosamente, impedindo que outros tantos caminhos possam ser revelados.

Sabemos que o ser humano é detentor de fortes contradições e que a sua busca por uma vida melhor nem sempre logrou êxito. Mário Quintana, o nosso encantado poeta, declarou um dia: “Ah! se exigirem documentos aí do ‘Outro Lado’, extintas as outras memórias, só poderei mostrar-lhes as folhas soltas de um álbum de imagens: aqui uma pedra lisa, ali um cavalo parado ou uma nuvem perdida, perdida… Meu Deus, que modo estranho de contar uma vida!”

Pois é. Eu também tenho me perguntado: que fotografias levarei desta vida? Que histórias terei para contar ainda desse lado? Isso porque o percurso da gente é tão repleto de causos que, no fim das contas, o que nos cabe mesmo é ser bons contadores de histórias. Apenas isso!

Bem, eu não posso dizer se terei sucesso ou não, uma vez que ainda estou plantando os acontecimentos. O certo é que tenho procurado, ao menos, não deixar que as fotografias adquiram um insípido amarelado e se desgarrem do meu álbum. Se eu conseguir isso, meus amigos, já será uma vitória…

Contudo, não é lá uma tarefa muito fácil. Isto porque as nossas emoções estão presentes e, ironicamente, acabam dificultando o processo. Por sorte, Fernando Pessoa nos deixou um importante legado: “…nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. / O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado / porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar. / Procuro despir-me do que aprendi, / procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, / e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos.”

De fato, eu devo reconhecer que o meu olhar, ultimamente, tem se voltado muito para o porão da memória. Justifico: é que de lá eu venho extraindo lembranças e lições do que já vivi. Tentando, com isso, dar mais significado aos inúmeros episódios e, em última análise, sentido a vida!

Sei também que em diversas ocasiões eu agi como na canção: “…dei pra sonhar / fiz tantos desvarios / rompi com o mundo / queimei meus navios”. Mas, tudo bem… Faz parte do jogo da vida. Afinal, são os esconderijos da memória. São os nossos sonhos brincando no labirinto. Daí, então, eu reafirmar: que maravilha é viver! Mesmo que o amor, por vezes, se desencontre, ainda assim ele sempre será bem acolhido. Mesmo que a mulher amada proclame sem piedade que “na bagunça do teu coração / meu sangue errou de veia e se perdeu…” – eu continuarei acreditando que o afeto mora ao lado.

O que sei é que se a gente pudesse incorporar um pouco mais o que as músicas dizem, ah!, como seria bom… Por certo, elas nos diriam com orgulho: “Se eu pudesse por um dia / esse amor, essa alegria / eu te juro, te daria / se eu pudesse esse amor todo dia. / Chega perto, vem sem medo. / Chega mais, meu coração. / Vem ouvir esse segredo / escondido num choro-canção”.

Ah, se a vida tivesse mais poesia! O mundo seguramente seria mais leve. E os ventos que correm por esse mundo, mundo, vasto mundo, cortando os caminhos da gente, soprariam em nossos ouvidos outro desafio de Drummond: “Ninguém me fará calar, / gritarei sempre que se abafe um prazer, / apontarei os desanimados, / negociarei em voz baixa com os conspiradores, / transmitirei recados que não se ousa dar nem receber, / serei, no circo, o palhaço, / serei médico, faca de pão, remédio, toalha, / serei as coisas mais ordinárias e humanas, e também as excepcionais…”

O que espero desta vida, minha gente, é poder celebrar o amor sem arrependimento e sem pudor. É poder pular a fogueira das fantasias sem medo de me queimar. Para que mais tarde não seja necessário declamar, com agravo, o poema de Nei Duclós: “Confesse que você está calado / enquanto ao lado deste quarto / os meninos criam cobras / debaixo dos colchões!”

Uma coisa eu asseguro: se eu fosse o bem-aventurado Mr. Kinsky – personagem de David Thewlis, no impecável filme Assédio – comporia a mais linda melodia que a memória afetiva propiciasse. E cada um dos acordes teria que resgatar os episódios mais importantes da vida, dando a eles uma nova possibilidade.

Já que eu dei a pista do motivo de tantas digressões, então, vamos lá: o filme em questão é “Assédio”. Com certeza, é mais uma obra-prima do mestre Bernardo Bertolucci. O certo é que só no imaginário dele caberia tanta poesia em um filme. Bertolucci construiu os maravilhosos versos desse filme-poesia tendo, como contraponto, o drama africano. Meu Deus, isto nunca terá fim? Miséria, dor e perseguições políticas impostas por ditadores são, como pano de fundo, os argumentos do filme. Revelados de forma impecável e com a marca característica de Bertolucci: a intimidade plena!

O texto da contracapa do filme diz tudo: “Quando seu marido é preso, acusado de propagar ideias subversivas aos seus alunos, a enfermeira Shandurai foge da África, um lugar à beira do caos político, e vai morar na Itália. Lá, para custear sua faculdade de medicina, ela trabalha como empregada para Mr. Kinsky, um excêntrico pianista e compositor inglês. Vivendo praticamente recluso desde a morte da esposa, o músico apaixona-se por Shandurai e passa a assediá-la com presentes e música. Sem saber que ela é casada, ele declara seu desesperado amor, jurando fazer qualquer coisa para agradá-la. Ela, então, implora que ele a ajude a libertar seu marido. Pouco a pouco, o pianista passa a se desfazer de seus objetos de arte para custear um julgamento legal. Mas, a notícia de que seu marido foi solto e está a caminho da Itália faz Shandurai repensar seus sentimentos e sentir-se dividida entre dois amores.”

Comovente. É o mínimo que podemos dizer dessa bela história. Afortunadamente, ela resgata não somente a fé no amor. Bem mais do que isso, meus amigos, a história revela o lado mais bonito que existe no ser humano: a generosidade. E quando digo generosidade, refiro-me, muito mais, àquela que é capaz de brotar da pessoa sem a obcecada contabilidade do retorno. A meu ver, aí está a genialidade de Bertolucci, à medida que consegue retirar, delicadamente, impecáveis fragmentos do cotidiano, tão escondidos nos corações.

O nosso estimado Mr. Kinsky foi além das fronteiras do amor para com Shandurai. Mesmo sabendo que ela era casada e, portanto, frustrando qualquer possibilidade de relacionamento afetivo, Mr. Kinsky foi tomado pelo amor que estava dentro dele, jorrando à vontade! E assim, ele foi capaz de amar, sem se preocupar com o retorno. Insisto: Mr. Kinsky amou, antes de tudo, a vida. Um incontido e extraordinário amor, suficiente para vazar: quer para a sua música, quer para Shandurai. Quantos conseguiriam isso? Quantos abririam mão de um amor em benefício do outro? Eis aí a beleza. Eis aí a poesia. Circunscritas no amor que o indivíduo carrega dentro dele. O mestre, Artur da Távola, conseguiu descortinar isso, quando disse que “só quem é capaz da independência e já passou pelo sofrimento necessário a tê-la, aceita as inevitáveis dependências da vida, particularmente as do amor. Quem chegou ao amor por independência, não chega a considerar certos atos na direção do ser amado que n’outro contexto seriam feitos com sacrifício”. Tem toda a razão, mestre!

O ‘estar só’ não é, necessariamente, uma manifestação desprovida de amor. Muito ao contrário! Uma criatura que é capaz de se amar, estando a sós, seguramente pode oferecer ao outro um afeto legítimo. O resto, creio, é apenas consequência. Bela e excitante, como convém.

Por tudo isso, minha gente, eu prefiro ficar com as melodias que estão esparramadas pelo universo. No fundo, elas são sábias. E me embalam nesta linda manhã de sol. Na voz da Ana Caram, todos os anjos sussurram em meus ouvidos: “Não se afobe, não / que nada é pra já / o amor não tem pressa / ele pode esperar / em silêncio, num fundo de armário / na posta restante / milênios, milênios ao ar…”

OS SONHOS DE CADA UM

Lembro que era sexta-feira, dia 9 de outubro de 1964. E para meu desespero, há mais de uma semana que eu lia aquele fatídico cartaz estampado na porta do teatro: “Sorry, sold out”. Céus… Nada poderia ser mais frustrante do que deixar de ouvir o sopro de Stan Getz em um refinado dueto com João Gilberto!

O fato é que eu trabalhava em uma padaria na “Midtown Manhattan”, nos fundos do Central Park. Ela ficava bem ali na Sétima Avenida, esquina com a West 58. Mas, convenhamos, era uma bela padaria, cuja tradição do ‘pão fresco’ tornava a rotina digna de repetição. Aliás, segundo eu soube, ela foi aberta pelo belga Alain Coumont, que decidiu sair de Bruxelas e se aventurar pelo mundo. De certo modo, eu também fazia o mesmo, meus amigos, ao sair do Ceará para Nova Iorque. No entanto, para Alain, havia a necessidade de um bom nome na porta do estabelecimento. Para tanto, ele precisou apenas se recordar do pai exclamando em casa: “moi, ce n’est pas mon pain quotidien” – “não é meu pão diário”. Assim, ele percebeu que não precisaria de nenhuma outra ideia. Bastava escrever: “Le Pain Quotidien”, “o pão do dia”, onde o passado encontra o presente e o futuro.

Contudo, a verdade é que eu tive que implorar um bocado pela minha folga semanal. Isso porque o belga era duro na queda e não aceitava improviso e nem desculpas esfarrapadas.

Ainda assim, após muito sofrimento, eu finalmente consegui a primeira parte do plano: a folga no dia seguinte. Só que havia um problema maior: o ingresso para o memorável show de João Gilberto, no “Carnegie Hall”! E a convidada daquela noite seria especial: a deliciosa voz de Astrud Gilberto. Quem pode perder isso?!

Dizem por aí que todo pobre tem o seu dia de sorte. Pode ser. Mas, no meu caso, devo reconhecer, eu tirei o primeiro prêmio na loteria da vida, meus amigos. Pois não é que o seu Alain me presenteou com um ingresso para o famigerado show?! Céus! Eu só acreditei quando vi o bendito ingresso. “Deus existe”, foi o meu desabafo!

Arrumei-me feito um príncipe, caprichando em cada detalhe. Engraxei os sapatos e peguei emprestado o terno do meu colega da padaria. Ao final, eu me sentia mais ‘garboso’ do que o prefeito da cidade. E se alguém medisse minha pressão sanguínea, por certo, iria se assustar.

Chegando ao balcão B, procurei o assento 67. Mal conseguia me sentar, tal era o êxtase. Além disso, experimentei os trinta minutos mais demorados da vida, que antecederam o início do espetáculo. “Voilà!”

Quando Astrud Gilberto começou a cantar “Corcovado”, confesso: chorei copiosamente. Senti saudades do Brasil e do meu velho Ceará. Saudades daquele adolescente que, um ano antes, havia partido sem rumo e sem prosa, em busca de algumas descobertas. Pois é. O que sei é que ao ouvir aquelas melodias, confesso, eu descobri que o mundo é bem maior do que nossas esperanças. É até maior que os nossos sonhos. Ainda bem, minha gente!

 O maravilhoso palco da exibição, o “Carnegie Hall”

João Gilberto e Stan Getz.

O CAVALEIRO E A ESPADA

Ah, meus amigos, já faz um bom tempo que não assisto a um belo filme de cavaleiros e espadas. Sim! Desses que são capazes de nos raptar por inteiro em uma história envolvente e cheia de fantasias.

Se não estou enganado, eu acredito que o último filme do gênero que assisti foi um desenho animado da Disney, numa tarde chuvosa, aninhado no sofá da sala com o meu neto, João Pedro. É bem verdade que ele ainda tinha quatro anos de idade. Céus! Lembro até que a avó dele fez ‘bolinho de chuva’ para todos nós, pois eu havia alugado o DVD “Os três Mosqueteiros”. Só que no nosso caso, o “João Bafo de Onça” era o protagonista dono das piores maldades, além de perseguir o pobre coitado do Mickey.

E como João Pedro era muito esperto, logo, logo percebeu que a Princesa Minie teria muitas dificuldades com o perverso João Bafo de Onça. É que a força do mal muitas vezes é superior às forças do bem. Paciência!

O tempo, então, caminhou mais um pouquinho. João Pedro cresceu e começou a ‘soletrar o mundo’ do seu jeitinho. Hoje, no auge dos seus quase nove anos, João só pensa em Minecraft, no tio parceiro e nos mergulhos na praia dos seus sonhos: Campeche.

A verdade é que o tempo passou, também, para nós todos aqui de casa. Gabriel, nosso filho, começou a trabalhar e faz planos promissores para o seu futuro. Ontem mesmo, nós estávamos conversando na cozinha, saboreando o café da noite. Então, eu o provoquei perguntando se não tinha vontade de se especializar em multimídia, áudio e vídeo, fora do país. Como ele fala impecavelmente a língua inglesa, sugeri que fosse para Los Angeles, o maior centro tecnológico de áudio e vídeo.

Ainda que isso já tivesse passado pela cabeça dele, o certo é que vindo do pai e da mãe, a ideia adquire contornos diferentes. Quem sabe, suas emoções se sintam ‘arranhadas’ pela nossa ideia?! É que os jovens, de certo modo, sempre preferem ser os autores das ideias. Pior ainda: vai que ele se sinta ‘empurrado’ para fora da casa pelos próprios pais…

Por isso, nós tivemos o cuidado de oferecer a ele a possibilidade de o acompanharmos nos dois primeiros meses da viagem, já que para nós isso seria prazeroso, com o sentimento de férias.

O que sei dizer é que a conversa de ontem poderá, de fato, ‘movimentar’ sentimentos e planos para a vida adulta do Gabriel. Acho até que ele ‘gostou’ da ideia e, no final da noite, sentou-se para elencar algumas etapas.

Hoje, meus amigos, ao acordar e partir para a minha caminhada matinal, eu me dei conta de que o papel dos pais, no fundo, é tão-somente ‘suscitar’ movimentos internos nos seus filhos. O resto, bem, o resto é com eles, não acham?! A gente procura ficar ao lado, na torcida para que tudo transcorra da melhor forma. Frio na barriga? Sim! Todos nós temos. Mas é preciso confiar nas forças naturais que estão dentro de cada um de nós. E acreditar que os espíritos celestiais estarão à postos, prontos para qualquer socorro na empreitada…

Lembro até que Gabriel, quando tinha a idade do seu sobrinho, João Pedro, tinha sempre guardado na manga a frase do seu herói, Buzz Lightyear: “Ao infinito e além!”

O HOMEM DA CAPA PRETA

É bem verdade que nessa época eu era ainda um molecote, com pouco mais de dez anos. No entanto, como sempre fui uma criança observadora, confesso que eu achava muito estranho as ‘reuniões’ que ocorriam na casa do Seu Nacib. Sim! Até porque, como diziam, a história do ‘velho turco’ era cercada de ‘muitos mistérios’. Segundo os comentários, já naquela época, o armarinho que ele possuía na rua Sampaio Ferraz era de ‘fachada’. Algo para encobrir e justificar o dinheiro abundante. Mas, quem pode garantir?!

Também é verdade que naquele Estácio dos anos 1960 tudo acontecia de modo sorrateiro, sem deixar vestígios. Ainda assim, há sempre um momento de descuido, por mais que a pessoa seja precavida. E no caso do Seu Nacib, talvez tenha sido por conta da festejada visita do famoso Tenório Cavalcanti. É que o controvertido deputado chegou com pompas e alardes. Fazendo questão, inclusive, de não ‘esconder’ a presença da “Lurdinha”, sua fiel companheira: a metralhadora!

Aliás, é bom lembrar que Tenório Cavalcanti foi candidato ao cargo de governador do Estado da Guanabara, em 1960, pelo Partido Social Trabalhista. Entretanto, ele perdeu as eleições para Carlos Lacerda. Logo a seguir, em 1962, ele se candidatou a governador do Estado do Rio de Janeiro, perdendo dessa vez para Badger da Silveira. Pois é. Ao que tudo indica, estes fatos, meus amigos, somado às pressões das bases políticas de Caxias, seu reduto político, diminuíram bastante o poder de Tenório, que lentamente cairia no esquecimento.

Antes disso, porém, ele seria protagonista de um dos episódios mais tensos da história política brasileira. Reza a lenda que, nessa ocasião, ainda no mandato de deputado federal, Tenório discursava na Câmara dos Deputados. E no discurso, ele acusava o presidente do Banco do Brasil de desvio de verbas. Mas no plenário, um famoso deputado baiano defendera o conterrâneo, respondendo que “Vossa Excelência pode dizer isso e mais coisas, mas na verdade o que Vossa Excelência é mesmo é um protetor do jogo e do lenocínio, porque é um ladrão.”

Tenório Cavalcanti, então, sacou o seu revólver e berrou: “Vai morrer agora mesmo!”. Alguns deputados correram para tentar impedir o assassinato, enquanto outros fugiram do plenário. Segundo as más línguas, o deputado baiano, tremendo de medo, teve uma incontinência urinária. Mesmo assim, gritava: “Atira. Atira!” Tenório, por sua vez, resolveu não atirar. Rindo da situação em que o deputado se encontrava, recolheu o revólver, dizendo que “só matava homem”. Vai saber?!

Mas o que eu queria dizer, de fato, era a respeito da reunião na casa do Seu Nacib. Porquanto eu acabei sendo testemunha ocular de um importante episódio. Deixem-me contar. Eu estava na esquina da Zamenhof com a Quintino do Vale, bem em frente à casa do Seu Nacib. Em um dado momento, ele foi ao portão e me chamou: “Chau, dê um pulinho na vendinha do seu Manoel e pegue uma garrafa de “Velho Barreiro” e peça para pôr na minha conta!” Fui e voltei em dois toques. Seu Nacib, então, disse para entrar e tomar um refresco de groselha. Foi quando eu vislumbrei um objeto preto, grande, encostado ao lado da estante da sala. Curioso, eu fiquei ali na sala tomando o refresco bem devagar para apreciar aquele objeto. Mas, criança é bicho danado. Não demorou muito e eu já estava com a ‘dita cuja’ nas mãos, observando cada detalhe daquela engenhosa ferramenta. Foi quando a porta se abriu e o deputado Tenório Cavalcanti entrou para ir ao banheiro, antes do almoço. Ao me ver com a “Lurdinha” nas mãos, ele calmamente pegou a arma e me perguntou: “Você já viu uma igual a essa?” Eu disse que não, quase gaguejando. Ele, então, segurando-me pelo braço, levou-me e até o jardim interno da casa do Seu Nacib. Lá chegando, empunhou a “Lurdinha” e deu uma rajada de tiros para o alto. Céus! Eu quase morri de susto com aquele barulho…

De certo modo, devo confessar: eu acabei tendo o mesmo ‘probleminha’ que o deputado baiano teve no plenário da Câmara… Paciência. Fazer o quê?!

Imagem: Tenório Cavalcanti, o “Homem da Capa Preta”.