OUTROS TEMPOS

Dizem que as criaturas, por mais dóceis que sejam, já tiveram uma fase ‘carbonária’ em algum momento da vida. Depois disso, é claro, elas navegam por mares mais plácidos e a vida segue outro ritmo. Pois é. Talvez isso seja um processo natural de amadurecimento, visto que até mesmo no reino animal a gente verifica esse comportamento. Vai saber?!

De certo modo, eu tenho a impressão de que ocorre situação semelhante na música. Porquanto a maturidade musical, muitas vezes, acaba sucedendo os ‘ímpetos juvenis’, criando assim interpretações mais serenas, intimistas e pessoais…

Portanto, para que não paire nenhuma dúvida sobre o meu gosto musical, eu trago hoje no cardápio, à guisa de ilustração, o exemplo do nosso extraordinário pianista Thelonious Monk. Ah, minha gente, como se diz lá no meu Ceará: vixe… eta cabra bom! Guerreiro!

É bem verdade que o disco em questão, intitulado “Underground”, possui dois aspectos que podem nos induzir ao erro. Primeiro pela capa do disco que, conforme pode ser vista, é a representação do pianista ‘guerrilheiro’. Literalmente. Depois, pelo disco em si: lindo, suave e harmonioso. Um verdadeiro contraste. Em algumas faixas, por exemplo, surge o sax tenor de Charlie Rouse com doces variações sobre os temas propostos por Monk. Além disso, temos uma faixa vocal bônus, com Jon Hendricks, “In Walked Bud”. Arrebatadoramente bela!

Então, pelo sim ou pelo não, meus amigos, aguerrido que fui em outros tempos, eu levanto um brinde ao ímpeto de Monk, que nunca fez concessões ao mundo comercial. Sim! Ele conseguiu se manter íntegro na linha musical escolhida, gostem ou não os senhores donos dos ‘estabelecimentos’.

De uma coisa eu tenho certeza: se ele vivesse em São Paulo ou Rio de Janeiro, ah, por certo nos diria sem medo: “é nóis, mano!”