Há quem acredite que o talento extraordinário de um virtuose, de um modo ou de outro, sempre anda de braços dados com a ‘loucura’. Ou que há embutido nele, no mínimo, profunda excentricidade. E mais ainda: dizem até que a capacidade produtiva do artista está intimamente ligada à dor e ao sofrimento. Olha, minha gente, sei não… No fundo, eu desconfio bastante dessas posturas ou teses ‘totalitárias’. Até porque, convenhamos, na maioria das vezes elas se mostram reducionistas. Pobres, até. Isto porque, não se pode julgar a dor alheia, seja ela certa ou errada, justa ou injusta, pois nada disso importa. Sim! Pelo simples fato de não estarmos no lugar do ‘outro’, não é verdade?!
Aliás, poucos sabem que foi Blaise Pascal, famoso físico, matemático e filósofo que afirmou um dia: “O coração tem razões que a própria razão desconhece!” Por conta disso, eu acredito que não me cabe fazer juízo de valor sobre a vida de quem quer que seja. Muito menos, com os ‘virtuoses’, cuja expressão artística deveria ser sempre livre de qualquer cobrança. Ou ‘patrulhamento’!
Mas, calma aí, minha gente. Quando afirmo isso, saibam que não estou endossando ou compactuando com as escolhas pessoais que esses gênios fizeram. Muito pelo contrário. Eu lamento. Profundamente! Afinal, boa parte da vida artística deles consegue ser extraviada por conta das escolhas infelizes. Porém, são os caminhos que ‘eles’ elegeram, independente de qualquer lamento ou repúdio que eu possa externar. São os infortúnios da vida e não há nada que os impeça…
Billie Holiday, por exemplo, de quem sou fã ardoroso, foi uma dessas incríveis criaturas que acabou sofrendo duramente com o envolvimento com as drogas. E ela experimentou um declínio agonizante. De alguma forma, todos nós perdemos muito do seu talento, pois ela nos deixou precocemente, em 1959, com apenas 45 anos de vida. Ah!, foi uma grande perda, isso sim. E no final, todos nós ficamos ‘órfãos’.
No entanto, eu creio que nós deveríamos separar a vida artística da vida pessoal desses talentos. Por isso, eu reconheço que a trajetória de conflitos de Billie foi fruto de uma alma tremendamente sofrida. Afinal, ela possuía muitas razões para se sentir desestruturada. No íntimo, pode-se dizer que o destino de Billie foi um ‘padrasto’ bem mais duro do que ela teve durante a aviltada infância…