DE REPENTE, FERNANDO FOI EMBORA…

De repente, Fernando foi embora. Partiu sem me avisar. Nem sequer se despediu de muitos de nós. Para alguns, isso pode até parecer injusto e, quem sabe, seja mesmo uma tremenda sacanagem?! No entanto, eu desconfio que Fernando devia ter fortes motivos para isso, minha gente. Afinal, ele era um verdadeiro cavalheiro.

Mas, e agora? O que vou fazer com o nosso antigo ‘sonho socialista’, onde imaginávamos um mundo mais justo e harmonioso? Ah, Fernando, pelo visto, nós vamos ter que deixar para outras gerações. A nossa, certamente, não deu conta desse antigo desejo, dessa ‘febre’ quase juvenil. Ainda que tivéssemos muitas esperanças, guardadas com amor e paixão ideológica, no fundo, devemos reconhecer que elas se extraviaram ao longo do caminho.

Também é verdade que eu terei que renunciar àquele acalentado sonho de montarmos um restaurante alternativo. Alternativo não somente na comida, é claro, mas principalmente nos temas interessantes que iríamos propor: jazz, cinema e utopias. Sim… para o deleite de todos. Sem falar das palestras e cursos que o restaurante patrocinaria. Confesso a você, Fernando: eu não consigo empreender esse projeto com outra pessoa. Só seria possível com você, à medida que ninguém mais trazia tanta lucidez nas ideias e propostas. É que você, meu velho amigo, possuía o dom de ‘abduzir’ os nossos sonhos com incríveis argumentos. E sempre sedutores!

Mas saiba, parceiro, que o que restava de brilho nesse mundo de hoje, por certo, vai perder a sua participação. Zizi bem sabe o que estou a dizer. Até porque, ela foi o seu ópio e a razão do seu amor neste mundo. Agora, ela terá que ‘reinventar a roda’ para dar conta desse enorme buraco…

Muitas vezes nós conversamos sobre a vida. E, quase sempre, tínhamos um copo de vinho ou cerveja para instigar os pensamentos. Afinal, no bojo das conversas, surgiam muitas ideias e propostas. Como consequência, vinha o desejo de mandar para cadeia essa ‘cambada de pilantras’ e sanguessugas que estão espalhadas por todos os lados. Ao mesmo tempo, nós acreditávamos que aquela velha ‘ilha do barbudo’ iria resistir aos ventos e furacões vindos do Norte. Tal qual aquela lendária ave, única da espécie, que após viver 300 anos, supostamente, se deixava arder em brasas para, em seguida, renascer das próprias cinzas. “Voilà”, eis a nossa fênix revestida de sonhos e esperanças nos homens de bem…

O pior de tudo, Fernando, é ter que confessar a você que eu não sei como lidar com esse novo momento. Eu explico. É que, de certa forma, você representava o meu ‘alter ego’. Por infortúnio, a partir de agora, eu ficarei sem o contraponto capaz de me dar equilíbrio para tocar a vida em frente. “Paciência”, diria você. “O que não tem remédio, remediado está, Carlos!”

Além disso, eu não sou chegado em despedidas. Principalmente, em despedidas tristes e encabuladas como essa. Porém. eu devo isso a você. Sendo assim, meu amigo, receba o meu melhor e mais afetuoso abraço. Com ele, é verdade, vai junto um esforço de sorriso e os muitos agradecimentos… Bem como esse mar de lembranças que me invadem a alma!

(Na foto: Fernando e Gabriel, meu filho, nos braços de Zizi)

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