O MENGÃO E AS FRUSTRAÇÕES DE 2021

Pois é, minha gente. Tem vezes que o silêncio é a melhor mensagem. Até porque, devemos reconhecer, a gente acaba ficando entalado, com aquele gosto de ‘cabo de guarda-chuva’, não é verdade? Mas o pior de tudo é a sensação de orfandade que parece tomar conta das nossas emoções. Quem sabe isso não seja uma defesa autoimposta que tem por missão poupar nossas energias?!

O que sei dizer é que, como todo flamenguista que se preza, eu também estou de ressaca. Aliás, uma baita ressaca! Assim como muitos, estou triste com os últimos acontecimentos. Afinal, nós perdemos a Taça Brasil, vimos o Brasileirão se distanciar a cada rodada e, ainda por cima, deixamos escapar pelos dedos a Libertadores. Ou seja: é muita perda para um ano só, meus amigos.

Não bastasse a pandemia que nos ‘surrupiou’ dois anos de saudável convívio e alegrias com outras pessoas. Não bastasse a crise política que, desafortunadamente, dividiu esse empobrecido país ao meio. Não bastasse a confirmação do câncer que há tempos rondava a minha próstata. Não bastasse a decadência na qualidade de vida, com escolas fechadas, teatros empoeirados e muitas viagens canceladas. Talvez, por tudo isso somado é que eu esteja me sentindo tão triste pela derrota do meu ‘Mengão’. Sei bem que ganhar e perder faz parte de qualquer competição. Portanto, não foi apenas o jogo disputado ontem…

O ano de 2021 já está agonizando os seus últimos dias. E só não digo “já vai tarde” porque aos setenta anos de idade, convenhamos, isso parecerá ‘soberba’, uma vez que posso não dispor de tantos mais assim. O certo, porém, é que este ‘2021’ foi um ano para se esquecer, ainda que tenham ocorrido bons episódios, vá lá! Sendo assim, o jeito é renovar os bons sonhos e torcer para que eles se concretizem. Com sorte, nós poderemos mudar o rumo de algumas coisas. Talvez, até mesmo o rumo do nosso país e, de quebra, das nossas vidas. Oxalá, então!

OS CAMINHOS QUE TRILHAMOS

Naquela época, devo reconhecer, eu jamais imaginaria que a vida fosse dar uma guinada. Mas, de fato, ela deu. Sim! Foi só ver o meu número de inscrição, 35.564, estampado na relação dos aprovados no vestibular de 1972. Segundo a lista, eu me classificara para o curso de Farmácia e Bioquímica da UFRJ. Pois é, minha gente… a vida tem dessas coisas. Aliás, Guimarães Rosa já dizia: “A vida é assim: esquenta e esfria / aperta e daí afrouxa / sossega e depois desinquieta. / O que ela quer da gente é coragem…”

Lembro bem disso, meus amigos. Afinal, para alguém que havia estudado a vida toda em escola pública, convenhamos, configurava um grande feito. Principalmente se levarmos em conta que o ‘sujeito’, em questão, era oriundo de uma família de cearenses, com pai, mãe e mais cinco irmãos pelejando na vida. O que sei dizer é que se eu não passasse naquele concurso, céus! a vida teria tomado outro rumo. E nem sei que caminhos eu estaria trilhando…

Aliás, foi o grande Adoniram Barbosa que declarou: “Deus dá o frio conforme o cobertor!” Pois é, minha gente. De fato, muitas vezes é assim que acontece na vida. Por outro lado, também é verdade, somos nós os responsáveis pelos percursos escolhidos, com ou sem consciência. Digo isso, porquanto a condução da vida sempre está sob nosso comando, ainda que sofra inúmeras interferências externas. É o tal negócio, no fundo, há que se observar a trajetória percorrida e dela extrair ensinamentos. Caso contrário, iremos repetir incontáveis erros, que insistem em não nos largar!

À propósito, vejam só: esta semana eu retornei de uma viagem ao velho Ceará, após cinco anos de ausência. O motivo principal da viagem era ‘acarinhar’ o meu quase centenário pai. Fiz isso porque ele é um homem bom e merece a nossa atenção. Afinal, ele já passou por poucas e boas. Criou sete filhos. Ajudou a esposa e muitos parentes dela. Semeou educação em todos. Enfim, dedicou grande parte de sua vida para propiciar aos outros um destino melhor…

Só que agora, é ele que carece de atenções e cuidados. E, ao que tudo indica, talvez isso não venha ocorrendo em quantidade e qualidade necessários. Chega a ser injusto, pois falta ao meu pai, quem sabe, os ‘bons dias’ vividos em ambiente inteiramente familiar. É bem verdade que ele recebe muito carinho de alguns sobrinhos. Todavia, não é suficiente. Falta a maior presença dos filhos que moram distante. Falta a convivência com velhos amigos. Falta até mesmo aquele belo espaço destinado à sua maior paixão: a música erudita.

Oxalá ele também encontre acolhimentos em outros redutos. E, desse modo, ainda possa saborear os pequenos prazeres que a vida propicia, até mesmo para os bem idosos como ele. Seria merecido. E um bom sinal de que há justiça sobre a terra. Como consequência, valerá a pena ele ‘pelejar’ mais um tempo por aqui…

(Aqui reunimos 168 anos de vida: eu com 70 e meu pai com saudáveis 98).