OS “JARDIM BRAGA’ E EU

Ontem, a minha amiga Celina reclamou que nos meus escritos os Braga nunca apareceram em qualquer história. De alguma forma, isso apontava para certa ingratidão de minha parte, por conta da antiga amizade que sempre nos uniu.

Pois é, minha gente. Confesso que, inicialmente, eu refutei a argumentação dela, uma vez que guardo muito carinho pela família Braga. No entanto, ao meditar sobre a questão, eu acabei acolhendo a ‘denúncia’, porquanto percebi que a queixa de Celina, de fato, possuía procedência. Deixe-me explicar.

Nós estávamos nos anos sessenta, por volta de 1965 ou 1966, e Celina era minha colega de sala de aula, no curso ginasial. O que posso dizer é que o nosso encontro ‘espiritual’ ocorreu de modo espontâneo, talvez, movido pelas conversas sobre as paixões amorosas vividas por cada um. As nossas longas conversas ao telefone mais pareciam um verdadeiro ‘consultório sentimental’. E o certo é que isso nos uniu tremendamente, vindo daí uma forte ligação, além da confiança mútua.

Até que veio o convite para conhecer a grande família: o lado Jardim e o lado Braga. É bem verdade que os primeiros a serem apresentados foram os pais de Celina, seu Zé Orlando e Dona Maria. O seu Zé, por certo, merece um lugar de destaque em meu coração, que narrarei mais adiante. Depois dos pais, vieram os irmãos, Álvaro, que acabou se tornando mais tarde o meu melhor amigo, e o Orlando, que era muito pequeno na época. Havia também os avós maternos de Celina: a doce e querida Dona Celina Jardim e o seu esposo, o sisudo do seu Newton.

A família Jardim Braga possuía uma casinha de praia em um balneário que ficava perto do Rio de Janeiro, na Estrada Rio-Santos: a calma Praia Grande. Era uma casinha bem pequena para o tamanho daquela família. Por isso, logo após a minha primeira ida para um fim de semana, surgiu neles o desejo de reformar e ampliar a casa. Céus, o resultado desse empreendimento foi fabuloso, originando uma casa de tirar o fôlego: linda e confortável.

Vale também dizer que eu participei ativamente dessa reforma, ajudando a carregar materiais, instalar a fiação elétrica, hidráulica e o que mais aparecesse pela frente. Naquela família, ninguém se furtava de ‘pegar no pesado’. Lá, isso não!

Por sinal, eu acredito que, de algum modo, esta participação foi responsável em criar elos ainda mais fortes com os “Jardim-Braga”. Como resultado, eles se tornaram a minha segunda família!

Hoje, ao me recordar deles, eu peço licença para resgatar a extraordinária figura do seu Zé Orlando. E se digo isso, é porque ele teve muita importância em minha vida. Seu Zé exerceu papel crucial em diversos momentos. Lembro bastante que as nossas conversas, intermináveis, eram regadas por inúmeras cervejas geladas. E além do mais, devo reconhecer que o seu Zé foi a primeira criatura que me ensinou a externar as emoções. Sem medos ou remorsos. Afinal, ele era uma pessoa extremamente sensível e sentimental. Vê-lo chorar ao contar causos e episódios se tornou algo marcante para mim. Aliás, foi somente ali, meus amigos, que eu descobri que ‘homem também chora”…

Com essas lembranças, eu aproveito para deixar registrado aqui o meu reconhecimento e a minha gratidão a toda família Jardim Braga!

A bela casa de Praia Grande que, guardadas as proporções, representou a minha “Macondo”…
Eu e o meu querido amigo “Zé Orlando”, em mais uma das maravilhosas conversas
que tivemos ao longo da vida. Abençoado seja!