Zeo foi meu irmão. Mas somente até os sete anos de idade. Porquanto ele quis partir mais cedo, talvez em busca de outros acolhimentos, vai saber?! Certo mesmo é que nós tivemos muitas conversas interrompidas. Sim! Conversas que poderiam me propiciar uma visão de mundo mais ajustada. No entanto, não ocorreram… Foi uma pena!
Por conta disso, eu fui obrigado a desbravar as estradas sem saber muito bem como agir, como adequar as rotas. Buscando tornar a travessia mais confortável. Por outro lado, sem os conselhos de Zeo, eu tive que desenvolver métodos intuitivos, bem como a capacidade de avaliação conforme o momento vivido. E isso, meus amigos, nem sempre a gente acerta a mão, não é verdade?
Daí, então, o mundo girou mais um bocado. E pôs à minha frente um sem-número de dúvidas e aflições. Assim, o processo de ‘crescimento’ aconteceu de modo forçado, sem o necessário tempo para depurar pequenas contradições. O me cabia, quando muito, era ter algumas conversas ‘ocultas’ com Zeo, tentando imaginar quais seriam os argumentos dele para cada episódio enfrentado. Algumas vezes isso dava certo. Mas, nem sempre!
O tempo foi passando e eu cresci de tamanho e de vontade de acertar. O diabo é que quanto mais se deseja acertar, ansiosamente, mais a gente acaba errando… Ah, meu prezado doutor Freud, por quê?! Por que é que a vida não facilita as coisas para os ‘necessitados’ de primeira hora? Por que o mundo não é capaz de ser ‘generoso’ com aqueles que pelejam feito doido em busca de rumos mais suaves?
Bem… O que eu posso dizer, minha gente, é que o processo de crescimento é difícil. Doloroso, até. Tem vezes que dá vontade de desistir e de pedir o ‘colo materno’, na esperança do acalento. Porém, logo a seguir, nós percebemos que “navegar é preciso”! E que temos que pagar o irremediável pedágio para descobrir como conduzir esse aprendizado. Com ou sem medos, com ou sem angústias, o fato é que temos que ‘tocar a vida’. Não há outra maneira!
Contudo, curiosamente, a vida vai nos empurrando pelos becos e esquinas. E de algum modo, ela acaba nos dando a chance de aprender a “soletrar o mundo”. Para que o infortúnio de Drummond não nos bata de forma tão dura: “Quarenta anos e nenhum problema resolvido / sequer colocado. / nenhuma carta escrita nem recebida. / Todos os homens voltam para casa. / Estão menos livres, mas levam jornais / e soletram o mundo, sabendo que o perdem.”
A verdade é que faz muito tempo que Zeo nos deixou. Com ele, foram-se também muitos sonhos e desejos de uma vida mais amena. Paciência, fazer o quê?! O jeito foi encarar a vida e ir à luta. Do melhor jeito que eu pudesse. Agora, se deu certo ou não, aí, são outros quinhentos. O importante foi continuar a caminhada tentando manter o coração íntegro. No fundo, eu acredito que obtive algum êxito, à medida que consigo olhar para trás e não sentir arrependimentos profundos. O que restou foi essa a sensação de que ‘toquei a vida’ com bastante amor e determinação. E isso já me basta, creiam-me.
O que ainda vem pela frente, ah, eu não sei dizer. Sei apenas que o tempo se encarregou de dissipar as lembranças de Zeo. Ao mesmo tempo, eu guardo a certeza de que tenho a meu lado dois solidários ‘escudeiros’: minha esposa e meu filho. Afinal de contas, eles têm sido a razão dessa caminhada de desafios em busca de novos sentidos, descobertas e alguns prazeres…
Abençoados sejam!

