A mudança dos ventos

Sim, meus amigos… Houve um tempo em que eu fui ‘craque’ no ping-pong, ao menos, no Edifício Esperanto, lá na velha Zamenhof do meu inesquecível Estácio. Mas isso, reconheço, ocorreu na minha infância querida e já faz um bom tempo. Fazer o quê?!

Houve também aqueles bons anos em que eu namorava no banco traseiro do velho fusca, lá na Estrada da Cascatinha, escondida no Alto da Boa Vista. Céus! Confesso que foram momentos de muita ‘adrenalina’, de aromas maravilhosos e sorrisos soltos feito passarinho…

Além disso, como professor, eu vi passar pela frente a ‘esperança’ estampada nos rostos dos milhares de alunos que tive, ao longo dos trinta anos de magistério. Quem sabe, por isso, eu possa ser lembrado como um bem-humorado ‘mestre’ no exercício da profissão?!

De um jeito ou de outro, o que posso dizer é que esse ‘caminho’ já me levou para muitos lugares. E nem sei para onde ele ainda vai me levar… Percebo apenas que as pernas já não possuem o mesmo vigor, o que é uma pena. Paciência, são coisas da vida! Muito embora eu guarde em mim o desejo de poder realizar outros tantos sonhos – não somente meus, mas de meu filho e de minha esposa. Afinal de contas, faz tempo que nós temos vivido essa jornada familiar: juntos e felizes!

Aliás, não querendo ser saudosista, eu tenho procurado manter o meu olhar para frente, sim, sem me esquecer do que já passei. É que a vida nos ensina muitas coisas, não acham? Melhor ainda é se aprendemos a ‘soletrar’ o mundo de modo correto. Porquanto haveremos de acumular preciosas lições. Digo isso não somente pela minha trajetória, podem acreditar. Até porque, ao observar os outros, pode-se aprender muito com eles. No fundo, isso se tornou algo essencial em minha vida. Sim! Pois me deu a oportunidade de ‘incorporar’ um sem-número de pequenas conquistas.

No entanto, chega uma hora em que os rumos da vida acabam tomando outras direções. Muitas vezes, é verdade, ocorrem à nossa revelia. E foi revendo o belíssimo filme “Chocolate”, de Lasse Hallström, que fui compreender o quanto a ‘história’ se repete. Incontáveis vezes. E olha que eu já fora avisado, logo no início da trama, que naquela pacata vila francesa tudo funcionava perfeitamente. “Até que em um dia de inverno, o vento matreiro soprava do norte…”

Daí, eu fui fazer os habituais exames médicos, começando pelo oftalmologista que acompanha o meu glaucoma há dez anos. Por sorte, consegui ‘renovar’ mais um ano sem preocupações, uma vez que está tudo sob controle.

Novamente, o aviso do filme saltou em minha frente: “…mas o matreiro vento norte ainda não estava satisfeito. Os ventos falaram de cidades ainda a serem visitadas. Amigos ainda a serem descobertos. Batalhas ainda a serem enfrentadas… Por outra pessoa, numa próxima vez!”

Resta-me, agora, aguardar o resultado da biópsia da próstata. Isto porque, apesar do histórico familiar ser ‘preocupante’, eu mantenho o meu espírito em alta e faço planos para mais trinta anos pela frente. Claro, afinal o meu querido pai, que tem 97 anos, passou por situação semelhante aos 70, logrando-se vitorioso. Então, comigo não deverá ser diferente, tenho certeza!

Por tudo isso, minha gente, baseado nesse espírito otimista, eu aproveito a narrativa do filme e relembro o pensamento final: “Quando o verão chegou na pequena aldeia, uma brisa vinda do sul soprava suave e morna…”

Publicado por

Carlos Holbein

Professor de química por formação ou "sina" e escritor por "vocação" ou insistência...